Lei seca

Já entrou em vigor a lei mais absurda de que há memória no que diz respeito ao álcool e à animação nocturna. No fim-de-semana passado tive oportunidade de assistir a números verdadeiramente insólitos. Numa discoteca cheia, um rapaz aproximou-se, depois de conseguir alcançar o bar, e pediu um vodka.

o empregado que já tinha na mão vários copos de outros pedidos, perguntou ao jovem noctívago pelo bilhete de identidade. «já tenho 19 anos. pode servir-me à vontade», disse com um ar confiante. «então mostre-me o bi», respondeu o embaraçado barman. enquanto isso, os restantes clientes começavam a ficar ainda mais impacientes – já se sabe que quem está com muita sede não tem muita paciência para esperar… a razão estava do lado do jovem cliente. não sei se o número se repetiu mais vezes, mas perguntei ao empregado como é que estava a correr a nova realidade. «na maior parte das vezes, são os mais velhos que pedem as bebidas e depois entregam-nas aos mais novos. o que podemos fazer nessa situação? chamar a polícia? retermos o cliente tanto tempo? já viu a confusão?».

o problema desta lei absurda é que devia de ter sido acompanhada, se esse é o caminho a seguir, pela interdição de menores de 18 anos nas discotecas e bares. agora atirar a ‘fiscalização’ da mesma para cima dos empregados não me parece muito justo. recorde-se que aqueles que têm mais de 16 anos e menos de 18 podem beber cerveja e vinho. que sentido é que faz numa discoteca estarem pessoas que podem beber cerveja e vinho, mas não podem beber bebidas brancas?

p. s. – na senda proibicionista, o governo entendeu que as lojas de conveniência e as bombas de gasolina não podem vender bebidas alcoólicas entre as 00h00 e as 8h00, independentemente da idade do consumidor. que tal proibição fosse aplicada nas auto-estradas ainda se entendia. agora nas cidades? se alguém der um jantar em casa, por exemplo, e se acabar alguma bebida só poderá reabastecer-se num restaurante, bar ou discoteca. isto faz algum sentido? até se percebe que algumas bombas de gasolina não quisessem vender bebidas alcoólicas durante a noite, atendendo à freguesia pouco recomendável. mas isso era um direito que assistia aos empresários. a lei seca nunca deu bons resultados…

vitor.rainho@sol.pt