O mundo culinário de Catarina

Catarina Serra Lopes é uma viajante profissional.Conhece meio mundo e já escreveu sobre ele. Mas nas reportagens tinha ficado de fora a comida. Agora edita as suas receitas em Pelo Mundo com os Tachos. Simples, rápidas e sem complicações. E com fotografias e histórias das viagens em que as descobriu.

aos 36 anos, tomou banho nas quirimbas, o arquipélago no norte de moçambique que se diz ter das mais belas praias do mundo, percorreu a namíbia durante duas semanas num camião, passou um mês a viajar pela austrália, percorreu de carro três mil e seiscentos quilómetros pela mítica route 66, nos eua e os passos de leonardo dicaprio no filme a praia na ilha phi phi ley, na tailândia. e fez mergulho nas maldivas, dançou o tango na argentina, comeu feijoada no morro do vidigal, uma das favelas do rio de janeiro, partilhou areais em goa com vacas. de todas as viagens que faz há sempre algo que traz consigo: livros de receitas. porque, diz, um povo, e uma cultura, conhecem-se pela comida.

agora, depois de anos a cozinhar os sabores que foi experimentando pelo mundo para os amigos, decidiu pôr tudo em livro e partilhar esses gostos e paladares com os seus leitores. pelo mundo com os tachos acaba de se editar com o selo da temas e debates. e promete surpreender o palato mais difícil. a única regra? que seja tudo simples e saudável.

a ideia para o livro, conta catarina, surgiu, provavelmente, «a meio de um jantar». há vários anos que a viajante se dedica à cozinha, gostando de inventar novas receitas. «faço questão de, cada vez que vai lá alguém jantar a casa, fazer uma coisa nova. arrisco e corre sempre bem». e como é raro lembrar-se do que serviu ao longo do tempo a determinado amigo, o melhor mesmo, diz, é fazer alguma coisa nova. o que lhe vale um sem fim de receitas.

há um ano e meio começou a pensar num livro que reunisse alguns desses pratos inventados. «achei que seria giro pôr num livro as minhas receitas, mas tudo muito barato. no entanto, comecei a ver que andava toda a gente a fazer receitas para a crise. já não havia pachorra. e pensei: então vou é contar as histórias das viagens porque, realmente, todas as ideias para as receitas tinham surgido de viagens».

é que, desde o ano 2000, que catarina serra lopes trabalha como jornalista de viagens, publicando as suas reportagens em jornais como o sol e o público, e revistas como a sábado, a blue travel e a volta ao mundo. e, se nesses textos, conta o que viu, agora era tempo de contar também o que provou. «estou sempre a viajar de um lado para o outro e adoro experimentar novos pratos nas viagens. experimentar a comida do país é uma das coisas que mais gosto, vou sempre com uma lista enorme de restaurantes que quero experimentar. e sou viciada em livros de receitas. trago sempre imensos. e depois chego cá, leio o livro todo, fecho-o e faço as receitas todas à minha maneira, já não pego mais nele. sou incapaz de seguir uma receita».

o que, para os seus leitores, pode ajudar. não só porque todas são simples de fazer, sem uma lista infindável de passos e ingredientes, como estes últimos são fáceis de encontrar, o que nem sempre acontece com a chamada cozinha do mundo. «já dei em doida, a correr seis supermercados para fazer um jantar para dez pessoas. quando abro um livro de receitas e vejo ingredientes em itálico, tremo. são aqueles que não se vai encontrar nem por nada. comecei a pensar: isto não é vida nem modo de morte._por isso, fui pesquisar o que havia de parecido com esses que pudéssemos usar e fosse fácil de encontrar. e dei por mim a conseguir encontrar muitas coisas com que se pode substituir esses ingredientes sem alterar a receita». a lima kaffir, por exemplo, muito usada na cozinha asiática, transforma-se em casca de lima ralada. o leite de coco em leite de vaca. «é que há muitas coisas que eu encontro no supermercado asiático do martim moniz. mas que fica um bocado fora de mão para quem more em carrazeda de ansiães». estas são receitas que podem ser feitas com uma ida a um supermercado normal, a uma mereceria ou ao mercado.

na escolha do que colocar no livro, o simples, rápido e barato foram critérios maiores. serem saudáveis era também um imperativo. catarina não gosta de gorduras ou refeições pré-congeladas. «refeições pré-cozinhadas fazem-me impressão._um pouco como a carne já picada do talho, não sei se mete um pouco do dedo do talhante lá pelo meio. a comida pré-feita, além de ser muito mais cara, de eu não saber muito bem como aquilo foi feito, normalmente tem não sei quantos aditivos e não é saudável. é só calorias e es. não gosto de comida de hospital. mas também não gosto de comer coisas que me façam ir parar ao hospital». ou seja, como diz o ditado popular, no meio está a virtude. e por isso, em pelo mundo com os tachos, as receitas são à base de ingredientes frescos e não esquecem os vegetais. mas querem-se saborosas, como a cozinha tailandesa, a sua favorita, «é muito condimentada, é muito variada. em cada refeição, para que seja equilibrada, deve-se comer um prato agridoce, um prato à base de leite de coco, um prato picante… e tem sabores muito requintados, é giro fazer a reconstrução de um prato tailandês, têm sempre imensas coisas».

não falta, então, comida tailandesa no livro, como salada à phi phi ou noodles tailandeses. mas também há comida portuguesa, como queijo camambert com compota de framboesas e bacalhau à ‘la catarina’. e há saladas e sopas, caris vegetarianos, moqueca de peixe, frango à cubana, bruschettas com tomate e ervas aromáticas, pastas variadas, sobremesas à base de fruta e iogurte e até um bolo floresta negra. tudo para saborear com as histórias e fotografias das viagens onde as descobriu. e com um globo à frente, para sonhar com o próximo destino.

rita.s.freire@sol.pt