O exemplo português

Fez esta semana 15 anos que abriram as portas de um dos acontecimentos mais bem sucedidos da história recente de Portugal.

a expo-98 foi um exemplo para o mundo e um sinal de que somos capazes de grandes obras quando os objectivos são comuns a muitos dos intervenientes. mas se a feira foi um sucesso, o pós também o é, apesar das falcatruas que aconteceram antes, durante e depois. recordo-me que dois anos antes da realização da expo-98 tinha visitado sevilha e tinha ficado desolado. o espaço onde tinha ocorrido a feira dos espanhóis, em 1992, fazia lembrar um filme barato de terror, se excluíssemos o parque de diversões.

quinze anos é pouco tempo, mas quem se recorda do que era a zona da expo antes da feira não pode deixar de sentir um certo orgulho. o local era um amontoado de contentores, com os depósitos de duas das petrolíferas pelo meio e onde crianças brincavam perigosamente. por ali, os mais afoitos apanhavam caranguejos e mergulhavam no lodaçal existente.

há umas semanas, quando dois jovens universitários moçambicanos fizeram um estágio no sol, andei a mostrar-lhes a cidade. levei-os também a cascais e a verem o mar na costa da caparica. no penúltimo dia da sua permanência em portugal fui com eles até à expo. a sua alegria era evidente. «já tinha visto uma cidade assim, mas só em filmes», comentou um deles. «isto tanto podia ser em frança como na alemanha, mas é em portugal», acrescentou. apesar da falta de tempo, lá fui explicando as maravilhas da pala de siza vieira ou a gare de calatrava. confessaram-me que, de tudo o que tinham visto, a expo era o que nunca mais iriam esquecer.

a zona da expo ficava na fronteira do ‘condado’ do bairro dos olivais, que em tempos também mereceu a admiração de muitos, precisamente por ter sido construído de raiz – por arquitectos de renome – e de ter conseguido misturar as diferentes classes sociais. além disso, não faltavam espaços verdes, com o vale do silêncio à cabeça, nem as escolas públicas.

depois da revolução dos cravos, algumas mentes brilhantes entenderam que o conceito do bairro estava errado e criaram guetos à sua volta. hoje, os olivais são um amontoado de pinos de sentido obrigatório e onde o cimento ganha espaço. é ridículo, mas é verdade.

vitor.rainho@sol.pt