também contou ter conhecido emma gould, mulher fatal e amante de um chefe de gangue, que lhe plantou o amor no peito como se fosse o buraco de uma bala de revólver. para a glória (liderará um extenso território como um verdadeiro gangster) e desgraça de joe contribuirão também más companhias, maus encontros e alianças feitas ou quebradas, em cenários sujos de narcóticos, racismo, miúdas e rum, onde intervêm algumas personagens históricas (exemplo do mafioso lucky luciano). mas, o que será feito da consciência de joe?
viver na noite, de dennis lehane, prossegue a saga da família de origem irlandesa coughlin em boston, iniciada no romance histórico naquele dia, de 2008. desta vez, o escritor norte-americano trata do final da década de 1920 e da guerra do álcool, dos gangues, dos clãs e da máfia em boston ou em ybor (pampa, florida), seguindo de perto os melhores exemplos da época vintage no policial negro, mas actualizando-os.
autor da dupla de detectives patrick zenzie e angela gennaro, dos aclamados mystic river e gone, baby, gone e do inesquecível thriller psicológico shutter island, lehane demonstra de novo uma mestria técnica de excepção. continua a ser um prazer acompanhar a vivacidade, fluidez e verosimilhança dos diálogos e a gestão meticulosa da expectativa no leitor e do ritmo dinâmico da narrativa. ao protagonista, joe, o autor concede uma dimensão moral que o afasta do cliché do menino de boas famílias que se torna bandido feroz com sede de vingança. de resto, a arte de contar de lehane é tão evidente em cada página que até se perdoa o desenlace sentimental desta história (no qual joe enverga uma gabardina de seda importada de lisboa!). a versão cinematográfica de viver na noite já está em rodagem, com ben affleck no papel principal e na realização.