Oposição síria boicota cimeira da paz

A Coligação Nacional Síria (CNS) não vai participar na conferência internacional que deveria ocorrer em Junho em Genebra, anunciou a organização rebelde esta quinta-feira em Istambul.

george sabra, presidente da principal coligação de grupos opositores do regime de bashar al-assad, declarou que a cns “não participará em nenhuma conferência internacional ou em iniciativas do género enquanto o irão e o hezbollah prosseguirem a sua invasão da síria”.

a organização apelou ainda a uma intervenção das nações unidas e da liga árabe para pôr termo ao cerco a qusair, onde a oposição diz estarem em risco milhares de vidas civis.

a batalha pelo controlo daquela cidade estratégica na fronteira com o líbano, porta de entrada de armamento e combatentes para os rebeldes e nó do corredor entre damasco e a região costeira alauíta pró-assad, está a ser ganha pelas forças do regime, apoiadas no terreno pelo movimento radical libanês pró-iraniano hezbollah.

ao mesmo tempo que a cns anunciava o boicote à cimeira, a rússia, os estados unidos e as nações unidas marcavam uma reunião para 5 de junho para tentar salvar a conferência. a reunião de genebra deveria sentar à mesa os dois lados em conflito para negociar uma saída política para a crise síria, incluindo a formação de um governo de unidade nacional. no entanto, a cns vinha somando exigências que tornavam improvável a realização da cimeira, como a demissão de assad ou o envio imediato de armamento para os rebeldes.

o anúncio do boicote vem juntar-se a outros importantes desenvolvimentos desta semana. na segunda-feira, a frança e o reino unido conseguiram fazer cair o embargo europeu à venda de armas à síria, de modo a possibilitar um eventual envio de armamento para os rebeldes. a decisão enfureceu parceiros europeus como a áustria e a república checa e levantou dúvidas junto de países como portugal, com o mne paulo portas a alertar para as consequências de um fornecimento de armas aos rebeldes.

“é preciso saber a quem se entregam essas armas, contra quem é que vão ser usadas, a quem é que vão ser revendidas e que circunstâncias nos podem surgir involuntariamente daqui a uns meses ou anos”, declarou portas.

a luz verde para armar os rebeldes sírios teve resposta imediata por parte da rússia, aliada do regime de assad, que na terça-feira anunciou o envio de mísseis terra-ar s-300 para damasco. o objectivo, afirma moscovo, é dissuadir uma eventual intervenção internacional no país.

israel, inimigo histórico da síria, já sugeriu que irá destruir os mísseis russos assim que cheguem ao território sírio – damasco promete retaliar contra tal acção. segundo declarou assad à imprensa libanesa, a entrega já terá sido concretizada, mas os jornais hebraicos, que citam fontes da secreta de telavive, colocam a alegação em dúvida. o estado judaico teme no entanto que os s-300 possam cair nas mãos de movimentos radicais ou ser empregues pelo regime sírio contra a aviação civil israelita.

o violento conflito sírio, cada vez mais transformado numa guerra por procuração, dura há mais de dois anos e terá vitimado mais de 80.000 pessoas. ambas as partes em conflito são acusadas por organizações independentes e pela comunidade internacional de graves violações dos direitos humanos, incluindo o massacre de civis indefesos, o uso de armas químicas e até actos de canibalismo e profanação de cadáveres.

pedro.guerreiro@sol.pt