Salvem as crianças

Em Moçambique, onde estive esta semana, encontram-se diariamente milhares de crianças a caminho das escolas. Segundo alguns estudos, perto de 45 por cento da população tem menos de 15 anos.

se as novas gerações procuram não seguir os pais no que diz respeito à constituição de uma família numerosa – a partir de oito filhos –, não deixa também de ser verdade que quase todos os casais querem ter, regra geral, três ou quatro filhos. a figura da adopção não é muito familiar, a não ser quando o tema inclui estrangeiros. por norma, são estrangeiros que adoptam as crianças órfãs.

vem esta conversa a propósito do programa a que assisti na rtp, no dia 27 de maio, quando cheguei ao hotel. mais uma vez o histerismo dominou o assunto da co-adopção. e mais uma vez fiquei com a sensação de que um assunto que podia ser resolvido sem grandes ondas, vai fazer correr muita tinta desnecessariamente.

mas recuemos um pouco no tempo. há poucos anos travou-se uma batalha memorável por causa da legalização do casamento de casais homossexuais. sempre achei a discussão uma estupidez, já que se podia ter feito tudo sem chocar quem quer que fosse. as pessoas do mesmo sexo que viviam uma com a outra podiam ter adquirido todos os direitos dos casais heterossexuais, mas podiam perfeitamente ter encontrado outra designação para essa união. com essa atitude a sociedade ficou dividida ao meio.

mas já nessa altura se começou a discutir a história da adopção por casais gays. retive então as declarações de alguns prestigiados psiquiatras, conotados com a esquerda, que alertavam para o problema do estigma em que podiam viver essas crianças. dizia um deles, que nas escolas essas crianças iriam sofrer horrores. eu dei como garantido que era inevitável a adopção por casais gays, até porque muitos dos casos mais mediáticos de adopção incluíam homossexuais. bastava ver as revistas cor-de-rosa… mas pensava que tudo ia ser feito com alguma discrição para preservar a criança. errado.

a co-adopção veio agravar ainda mais a vida daqueles que não pediram para entrar em tal filme. se um casal gay, casado, quer que os dois tenham direitos e deveres sobre o ‘filho’ porque não defendem apenas as questões jurídicas e deixam a definição de pai e mãe para os casais heterossexuais? o histerismo dos adultos sobrepõe-se aos direitos das crianças. o que é mau.

vitor.rainho@sol.pt