Guerra ao telemóvel à mesa

Fico abismado com o desplante dos miúdos de hoje, que se sentam à mesa com o telemóvel à frente. Não é isto uma má criação? João Cabral.

claro que é uma má criação. fui educada a nunca atender telefones à hora das refeições. em casa dos meus pais, quando ainda só havia telefones fixos, davam-se instruções ao pessoal para informar que ninguém da família podia ir atender chamadas quando se estava à mesa – a não ser, evidentemente, numa situação de óbvia emergência. a seu tempo seriam retribuídas (também fui ensinada a não deixar chamadas sem resposta).

hoje reparo que os miúdos (também tive esse problema em casa) e mesmo muitos graúdos (a normalização social é terrível) usam os telemóveis como novos-ricos, não conseguindo separar-se deles. parece até uma luta perdida, como se estivéssemos a pregar no deserto. mas talvez não seja de desesperar. lembra-se o leitor dos tempos em que os miúdos pareciam todos atrasados mentais, agarrados aos gameboys? o meu marido recusava-se a dar gameboys aos nossos filhos, no terror de que acontecesse o mesmo com eles. felizmente já não se vê disso.

alguém me dizia há dias que a actual luta de classes é entre quem tem ou não tem classe. claro que, neste aspecto, a vitória, por maioria absoluta, será sempre de quem não tem classe, e leva os telefones para a mesa, e para todo o lado, como uns tolinhos em síndrome de abstinência. mas aqui entre nós, a grande elegância nunca foi das maiorias: portanto, pelo menos em nossas casas, procuremos ter classe, e ensinar os filhos a tê-la também.