a tunísia corre com o homem que estava no poder há um horror de anos e mais uma vez se ouvem as palmas. os exemplos de vivas à nova democracia sucedem-se. afinal, no ocidente não faltam politólogos e sociólogos que gostam de analisar a vida dos outros pela sua.
infelizmente, muitas das observações que tais ditadores das verdades absolutas fazem andam longe da realidade – mas eles não se importam muito com isso. a muitos milhares de quilómetros é fácil julgar o que é melhor para os outros, independentemente dos costumes locais ou das regras por que se regem. na opinião de cátedra de tais figuras, a verdade é só uma e não merece que se perca tempo. a primavera árabe, por exemplo, era um fenómeno imparável rumo à democracia. os ditadores seriam substituídos por novos democratas e o mundo ficaria melhor. ao fim de dois ou três anos é o que se vê. as populações, regra geral, vivem pior do que viviam antes e os antigos homens fortes – que apesar de tudo conseguiam manter os países unidos – foram substituídos por pequenos tiranetes que dividem para reinar.
digamos que os que estavam no poder incarnavam o mal e os que os ocuparam os seus lugares o bem. é assim em todo o lado, à luz de tais politólogos e sociólogos. e foi por partirem deste princípio que a eleição de barack obama foi recebida com tanto fervor. os incultos e perigosos bush eram finalmente corridos do poder. com a chegada de obama, os abusos de guantánamo, as perseguições políticas, os lóbis do armamento e os ataques à liberdade de expressão tinham os dias contados. valeria a pena recuperar, entre outros textos que então se escreveram, o de mário soares sobre o presidente americano. como é sabido, guantánamo mantém-se de pé, os lóbis das armas continuam em plena actividade e a liberdade de expressão encontra-se mais ameaçada do que nunca. se o que se soube esta semana fosse no consulado de um dos bush, figuras pelas quais não tenho simpatia, não sei o que se escreveria. fascistas? ditadores? pois é, mas foi obama que permitiu a devassa da vida de milhões de americanos e de cidadãos de todo o mundo, tudo em nome da erradicação do terrorismo. como cidadão livre, estou sempre do lado dos americanos na guerra contra os fundamentalistas; mas como cidadão livre também não consigo perceber como é possível obama dizer as banalidades que diz quando confrontado com tais ataques às liberdades individuais de tantos milhões. por este andar ainda havemos de voltar a comunicar por sinais de fumo – para não deixar rasto.
vitor.rainho@sol.pt