vem esta conversa a propósito de uma discoteca onde me levaram na semana passada. tendo estado várias vezes em luanda – só encontrei dois espaços nocturnos genuinamente angolanos, as discotecas w e maiombe – achei imensa piada à mwangolé, antiga w, mas em lisboa. confusos? é simples. na capital angolana, a maioria das discotecas passa house, brasileiradas e portuguesadas, além, obviamente, dos kuduros e sembas. o ambiente é muito diversificado, mas, regra geral, há uma grande misturada saudável. apenas em duas discotecas senti a cultura angolana: no w e no maiombe, onde os angolanos estão em clara maioria e onde a sua música é rainha.
foi por isso que estranhei quando entrei no antigo w, actual mwangolé, em lisboa, e só ouvi música angolana e cabo-verdiana. mas tudo começou à porta onde um ferrari de quatro lugares dava as boas vindas. lá dentro, algumas figuras da sociedade luandense, que se sentem em casa na capital portuguesa, dançavam bem juntinhos aos seus pares. por vezes, parecia que estavam totalmente parados, mas bastava olhar para as ancas para perceber que não era verdade. as garrafas de champanhe iam sendo abertas e ninguém parecia estar com vontade de se ir deitar. as mulheres, algumas, pediam aos homens que as acompanhassem nas danças. outras eram assediadas por homens mais afoitos. senti ali mais luanda do que em luanda, como também vi menos portugueses ali do que em luanda, o que não deixa de ser bastante engraçado. independentemente das questões políticas, percebe-se que os dois povos se cruzam bem, à semelhança de outros do espaço lusófono. quem viaja nesse mundo de quem fala português, percebe que é assim. basta ir ao chill out ou ao lookal, em luanda, ou ao 1908, em maputo, ou ao fogo d’áfrica em cabo verde. a música ajuda nessa mistura e união, fazendo com que os ‘forasteiros’ se sintam em casa – o mesmo acontecendo quando se invertem os papéis.
a noite acabou com uma risota monumental, quando a mulher de um dos seguranças o foi buscar, tendo saído de casa para o efeito…
vitor.rainho@sol.pt