Morsi ao espelho

Admitiu erros mas não explicou quais e justificou as dificuldades na governação com a actividade dos «inimigos do Egipto», que «não pouparam esforços para sabotar a democracia». Mohamed Morsi, o primeiro Presidente egípcio democraticamente eleito, falou ao país na quarta-feira, quatro dias antes do primeiro aniversário da chegada ao poder, mas o tom não foi…

«estou aqui perante vós, não como um detentor de um cargo, mas sim como um cidadão egípcio que teme pelo seu país», disse num discurso transmitido pela televisão nacional. «a polarização e o conflito político chegaram a um nível que ameaça toda a nossa jovem experiência democrática e arrisca atirar a nação inteira para um estado de paralisia e caos», alertou.

como tal, convidou os líderes de todos os partidos para se formar uma comissão que reveja a constituição – um dos dossiês mais criticados durante a sua presidência.

na praça tahrir do cairo, coração da revolução de 2011 que derrubou hosni mubarak, milhares de opositores acompanharam o discurso com vaias e reforçaram o pedido de eleições antecipadas, denunciando o autoritarismo, negligência e conservadorismo do governo islamista. um movimento popular diz ter recolhido já 15 milhões de assinaturas a pedir um novo escrutínio e está marcada uma manifestação para domingo no centro do cairo. teme-se o pior, porque os islamistas também irão para a rua nesse dia.

as forças armadas, cujas chefias demonstram uma crescente impaciência em relação a morsi, reforçaram a segurança nas principais cidades perante a ameaça de violência. ainda na quarta-feira, confrontos entre apoiantes e críticos de morsi mataram duas pessoas e feriram 230 na cidade de mansoura, a norte do capital.

pedro.guerreiro@.sol.pt