o governo fez uma avaliação dos riscos levantados pela suspeita de que o ex-espião seguia a bordo do avião presidencial da bolívia e optou pela solução que, a seu ver, lhe traria menos problemas: aceitar o voo, mas não a aterragem, invocando «motivos técnicos» que, na prática, não existiram.
o ministro dos negócios estrangeiros várias vezes, esta semana, na audição no parlamento, que não quis «importar um problema [snowden] que não é de portugal» – salientando também que os processos de extradição «demoram anos» e lembrando que portugal é contra a pena de morte. portas até questionou o presidente da comissão parlamentar de negócios estrangeiros, sentado a seu lado, alberto martins, que foi ministro da justiça, para atestar essas demoras.
com isto, portas estava a dizer que se snowden viesse a bordo do avião de morales e se este aterrasse em território português, as autoridades nacionais podiam ver-se obrigadas a certificar-se de quem ia a bordo. e, no limite, a executar um mandato de captura. se tal acontecesse, o ex-espião acabaria por ficar numa prisão portuguesa, enquanto decorreria o processo de extradição.
além disso, o problema com a bolívia seria muito maior, pois a ofensa seria mais grave: era preso um passageiro do avião presidencial de outro estado. aliás, o avião foi revistado pelas autoridades austríacas, onde acabou por aterrar, e a bolívia veio acusar imediatamente a áustria de ter raptado o seu presidente numa viagem oficial.
extradição complicada
portugal tem efectivamente um acordo de extradição com os eua, embora neste país vigore a pena de morte. segundo alberto martins, nestes casos, portugal exige garantias de que a pena de morte não é aplicada antes de enviar qualquer detido, num processo de troca de informações judiciais que pode ser prolongado.
o avião de evo morales passou por portugal no dia 2 de julho a caminho de la paz, mas a paragem para reabastecimento foi negada por «motivos técnicos». o sol sabe que a autoridade aeronáutica nacional recebeu ao final do dia 1 indicação do mne de que o plano de voo deveria autorizar o sobrevoo mas não a aterragem.
outros países, como espanha, fizeram o mesmo. o ministro dos negócios estrangeiros, josé manuel margallo, no entanto, assumiu ter recebido «dados claros que indicavam que snowden estava dentro do avião» e que «os países europeus agiram em função dessa informação» sem ter «tempo de verificar se era verdade ou não».
edward snowden continua no aeroporto de moscovo. ontem pediu asilo político temporário à rússia, com o objectivo de chegar depois a um país da américa do sul. a venezuela já respondeu afirmativamente ao seu pedido de asilo.