Inesperada aliança em Sines

Dão-se por vezes alianças inesperadas no reino musical. Veja-se a noite de sexta-feira no Festival Músicas do Mundo, em que dois grupos e o público se uniram para estraçalhar o mesmo alvo – a Polícia.

sucedeu com dois grupos de proveniência e de matrizes bem diversas, os norte-americanos de raiz judaica barbez e os bósnios dubioza kolektiv. uns chamavam os polícias de “porcos”, outros cantaram ‘fuck the police’. coincidência, a gnr está este ano muito mais presente no festival, revistando quem entra no castelo. talvez por isso esses momentos tiveram grande adesão do público.

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nessa matéria, o alinhamento foi em crescendo até à explosão do ska balcânico dos dubioza kolektiv. os barbez tocaram ainda para pouco público e, apesar de comunicarem em português, inclusive declamando um poema na língua de camões, a sua actuação não venceu o vento que soprava na altura. o concerto, sem dúvida interessante, é marcado pelo violino e pelo teremim, num tom mais introspectivo que os restantes.

os franceses lo’jo mostraram por que razão foram considerados o melhor grupo do ano pelos prémios songlines. a versatilidade dos músicos — em especial de yamina el mourid, que além de cantar e dançar, toca vários instrumentos — e o cruzamento sonoro, algures entre a europa e as áfricas, só não resulta melhor por alguma dificuldade do líder, denis péan, se fazer compreender.

ciente da barreira da língua francesa para as gerações mais novas, o congolês radicado na bélgica baloji optou pelo inglês para chegar à audiência. não foi fácil ganhá-la. o hip-hop misturado com os ritmos eléctricos típicos do congo nem sempre colavam. mas baloji e os seus experientes músicos (à excepção do baterista, todos com idade para serem pais ou avós do cantor) acabaram por deixar o público rendido à sua energia contagiante.

e foi já com a temperatura à beira da ebulição que o septeto vindo da bósnia apresentou o que mais parecia uma aula de fitness. bateria e batida electrónica em alta rotação, músicos saltitantes vestidos de fato de treino preto e amarelo e um ska com notas dos balcãs levaram ao rubro o castelo.

ainda de dia, a acordeonista celina da piedade deu a conhecer o seu álbum ‘em casa’, e levantou as pessoas do chão para dançarem — objectivo alcançado.

o alinhamento deste sábado tem como pontos altos os ucranianos dakhabrakha e o regresso de um senhor da música, o brasileiro hermeto pascoal. jp simões, batida e reijseger fraanje sylla completam o programa.

cesar.avo@sol.pt