O reizinho do Algarve

Há uns anos contavam-se duas histórias nas redacções dos jornais que ilustram como o mundo mudou…

uma dizia que a crítica gastronómica do new york times teria um plafond superior aos dos correspondentes do jornal para toda a américa latina. constava que a senhora, usando sempre um chapéu largo para nunca ser reconhecida, não escrevia uma linha sobre o que não provava. ao frequentar os melhores e mais caros restaurantes da cidade que não dorme, não se fazia rogada e se queria provar uma garrafa de pétrus, que poderia ir dos 300 aos três mil dólares, a sua vontade era satisfeita no imediato. havia como que um certa deferência por tal criatura, apesar do seu anonimato. o jornal queria assim mostrar toda a sua independência e não podia prestar um mau serviço aos seus leitores, vendendo informação ‘engatilhada’. a outra história que mostrava o poderio económico dos meios de comunicação social referia-se à compra de um camelo por parte de um repórter de guerra que cobriu a primeira guerra do golfo. chegado à redacção do jornal onde trabalhava, apresentou a factura da compra do bicho, ao que os responsáveis financeiros teriam exigido o animal. dois dias depois, o famoso repórter terá chegado com nova factura: a do funeral do camelo.

servem estes dois exemplos para darmos um salto no tempo e chegarmos ao nosso verão portuguesinho. um rapazote que gosta de ostentar que é riquinho é convidado para dar uma entrevista num dos principais telejornais nacionais. não vi a peça de enquadramento, mas pelo que li, ninguém tentou saber quanto dinheiro gastou verdadeiramente na sua festa de aniversário – muito menos do que foi falado –; ninguém contou por que anda sempre rodeado de quatro guarda-costas; e ninguém explicou por que razão os donos do espaço onde o rapaz passeia a sua classe montada em tatuagens dão gritos de alegria por o verem pelas costas.o rapaz apresentado nas redes sociais como simpático, adora entrar em cabinas de dj e expulsar temporariamente o artista dos pratos; adora umas confusõezinhas, além de ter um gosto muito vincado por cenários de cabaret. mas isso é lá com ele.

que tanta gente tenha falado e muito de tal figura e não tenha ido verificar quem é a personagem em questão, dá que pensar. a informação é cada vez mais um somatório de comentários da internet.

vitor.rainho@sol.pt