agora parece que é de vez. miley cyrus conseguiu finalmente desmarcar-se da personagem hannah montana, a menina bem comportada que interpretou para a disney durante cinco anos, entre os seus 13 e 18 anos. a estrela infantil já andava há algum tempo a tentar romper com essa imagem, usando como estratégia um guarda-roupa bastante ousado nos concertos – como foi aliás testemunhado em lisboa, aquando da sua passagem em 2010 pelo rock in rio – e comportamentos pouco apropriados para uma estrela admirada por milhões de crianças no mundo inteiro como o consumo de droga.
na festa do seu 18.º aniversário miley cyrus foi filmada a fumar erva num cachimbo de água e o vídeo foi parar à internet. reprovada por muitos pais chocados, as imagens não foram, no entanto, suficientes para afastar miley cyrus completamente do universo hannah montana. talvez por isso, a jovem tomou medidas ‘mais drásticas’ e começou a tatuar o corpo, cortou o cabelo ‘à rapaz’ e adoptou um visual muito próximo da cultura negra norte-americana, mais concretamente o rap e o hip hop. foi essa nova faceta, aliás, a que o mundo assistiu na gala dos mtv video music awards. e o facto de ter rasgado o body ,com um urso de peluche estampado, para ficar seminua em palco deu a entender que a artista quer mesmo esquecer o universo hannah montana.
como se isso não bastasse, miley cyrus chocou ainda mais o mundo com os seus movimentos de twerk – termo usado desde os anos 90 pelos rappers americanos para descrever a dança sexualmente sugestiva das bailarinas de striptease – durante a actuação com robin thicke. e mal a performance terminou, as redes sociais encheram-se de comentários depreciativos. enquanto o comediante e apresentador de televisão bill maher escreveu no twitter que não vai “há algum tempo a um clube de strip, mas é bom saber que nada mudou”, o rapper nick cannon, marido de mariah carey, comentou: “lembrem-me de nunca introduzir os meus filhos [os gémeos moroccan e monroe de três anos] no showbizz”. como lhe compete, também a the parents television council condenou o momento televisivo, mas não deixa de ser curioso que a organização seja apoiada por billy ray cyrus, pai de miley. porém, o cantor de country, que faz parte do painel de conselheiros da organização, escusou-se a comentar a actuação da filha, optando por desviar atenções para a situação na síria. “estive a ver as notícias devastadoras vindas da síria. armas químicas usadas em crianças inocentes é inaceitável”, escreveu no twitter, provavelmente apontando igualmente o dedo à cnn, o site noticioso mais frequentado dos estados unidos, alvo de muitas críticas por, na segunda-feira, ter dado mais destaque a miley cyrus do que à síria.
a opção editorial da cnn foi tão criticada, que a editora online da estação noticiosa sentiu a necessidade de explicar a mesma. tratando os leitores por “idiotas”, meredith artley escreveu numa crónica assinada por si que a opção de destacar miley cyrus em detrimento da síria foi uma estratégica consciente para obter mais tráfego e, consequentemente, mais anunciantes. “vocês querem saber quantas mais visualizações a miley cyrus teve em comparação ao nosso artigo sobre os fogos florestais do parque nacional de yosemite? [a segunda história mais vista nesse dia no cnn.com]: qualquer coisa como seis ‘ziliões’. isso é por vossa causa, não nossa”, menciona, reforçando a idiotice dos leitores em preferirem temas fúteis a artigos de carácter político e social.
o facto da coordenadora da cnn ter-se dado ao trabalho de justificar a sua decisão editorial também vem confirmar que, aos 20 anos, miley cyrus conquistou a proeza que tanto queria: ser efectivamente uma estrela pop no mundo dos adultos. por muito efémera, desinteressante ou sobrevalorizada que seja uma popstar, as dimensões que o twerk de miley cyrus atingiu só é comparável a polémicas de nomes como madonna, lady gaga ou britney spears, também ela uma ex-estrela da disney. e, como defende o jornalista da revista rolling stone, rob sheffield, “miley foi a única estrela naquela sala que realmente entendeu o que são os mtv video music awards”. uma noite de entretenimento em que o show off é o mais importante, à imagem do próprio canal que a promove (actualmente a mtv exibe mais reality shows do música) e que, depois, tem repercussões tão distintas como a crónica da editora da cnn ou a fotomotagem humorística que o site buzzfeed fez de miley com quadros famosíssimos da história de arte.
toda esta polémica também ajudou a promover o próximo disco da cantora, bangerz, cujo lançamento está previsto para 7 de outubro. o primeiro single do registo, ‘we can’t stop’, foi divulgado no final de junho e, um mês e meio depois, já tem 160 milhões de visualizações no youtube.