Atacar às cegas

Há uns anos largos, quando entrevistei José Mourinho em Londres, o treinador do Chelsea explicava um pouco do funcionamento da sua equipa.

andré villas-boas, por exemplo, tinha como uma das suas missões registar a forma de jogar dos adversários, compilando vídeos à medida dos seus jogadores. o defesa direito do chelsea tinha de receber um dvd de 12 minutos com as jogadas dos adversários que iria encontrar pela frente.

tudo era, e é, estudado ao pormenor e depois é a inspiração e a técnica de cada um, aliado ao colectivo, que decidem os jogos. estamos a falar de futebol, uma indústria que movimenta milhões, mas onde não é suposto morrer ninguém. agora imagine-se que os mourinhos desta vida seguiam a estratégia de presidentes como o americano, o inglês ou o francês. quem já viu documentários sobre a primeira ou a segunda invasão do iraque percebe facilmente que as tão faladas armas químicas não existiam e que os equilíbrios tribais seriam determinantes aquando da queda de saddam.

como se sabe, o ditador iraquiano foi condenado à forca, e o país a uma guerra civil, desde então. do iraque passou-se para o afeganistão, onde os talibãs não parecem querer desistir de tomar conta do país. o mundo islâmico nunca mais foi o mesmo e a anunciada primavera árabe, além da queda de khadafi, prometia dias melhores para os povos oprimidos e na miséria. pois bem. algum desses países está melhor do que estava? os moderados conseguiram conquistar terreno aos fundamentalistas? pelo que rezam as crónicas, não. o que levará então países como os eua, inglaterra e frança a quererem avançar outra vez para outro conflito sem terem o trabalho de casa feito? isto é: já têm alternativa para colocarem alguém no poder quando afastarem o presidente bashar al-assad? o que virá a seguir será melhor e contribuirá para a paz na região e no mundo?

face a isso, haverá quem pergunte ‘mas eles são estúpidos e não sabem o que estão a fazer?’. segundo rezam as crónicas, são. encarar o conflito da síria como se encarou o da líbia não parece ser grande ideia. não seria preferível que os países ditos civilizados auxiliassem as revoltas internas e deixassem aos locais a resolução dos problemas? entretanto, o preço do petróleo já subiu, as nossas vidas pioraram e a insegurança aumentou… aguardemos as cenas dos próximos capítulos.l

vitor.rainho@sol.pt