Bomba-relógio italiana

O Senado italiano começa a discutir na segunda-feira a expulsão do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, à luz de uma lei de 2012 que prevê o afastamento de cidadãos condenados pela Justiça de todos os cargos políticos durante seis anos.

num gesto que ameaça voltar a mergulhar a itália numa nova crise, o partido do líder histórico da direita, o povo da liberdade (pdl), promete deixar cair a frágil coligação governamental em protesto por um afastamento.

os conservadores argumentam que o diploma de 2012 não pode ser aplicado retroactivamente, referindo que o caso que resultou na condenação do líder remonta a período anterior. no entanto, o partido democrático lembra que a condenação a quatro anos de prisão por fraude fiscal foi apenas confirmada a 1 de agosto, sujeitando berlusconi à expulsão.

além da ameaça de uma crise política, o pdl promete inviabilizar a votação do afastamento do antigo chefe de governo através da ausência dos seus senadores.

mas o risco de ruptura surge mesmo antes da votação. maurizio gasparri, dirigente do pdl, avisou esta semana que o partido retirará o apoio ao executivo de enrico letta, caso o comité que discute o caso se transforme num “pelotão de fuzilamento político”.

fora do senado, berlusconi explora duas outras vias para escapar à prisão e ao exílio político: um perdão presidencial ou uma declaração de inconstitucionalidade da referida lei de 2012. a clemência de giorgio napolitano, porém, parece improvável. na semana passada, o chefe do estado excluiu o antigo primeiro-ministro de uma lista de nomeados para senadores vitalícios.

pedro.guerreiro@sol.pt