inspirado num artigo de 2008 do washington post sobre a vida de eugene allen, um mordomo que trabalhou na casa branca com oito presidentes, o filme de lee daniels conta o percurso de cecil gaines (forest whitaker) desde a infância, na fazenda de algodão onde vê o pai assassinado e a mãe violada pelo filho do patrão, passando pelo trabalho como empregado de um hotel de cinco estrelas de washington até à ascensão na casa branca como mordomo.
ali, no epicentro do poder dos estados unidos, cecil é testemunha directa dos acontecimentos históricos do país, em particular da luta dos afro-americanos pela conquista dos seus direitos civis. mas tal como forrest gump, o mordomo limita-se, às vezes até de forma algo atabalhoada, a ‘passar em revista’ factos históricos – como a criação dos movimentos de martin luther king jr., malcom x e os panteras negras –, sem aprofundar nada, nem estabelecer um ponto de vista.
para mostrar os dois lados da história – o dos negros que aceitam as regras dos brancos, mas em virtude disso vivem sempre com medo, e a dos jovens que exigem serem tratados como iguais – lee daniels coloca em perspectiva a relação difícil entre cecil e o seu filho mais velho, louis, que desde cedo revela não concordar com a atitude submissa do pai e que mal entra para a faculdade alia-se a vários movimentos, nomeadamente os revolucionários panteras negras.
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é esta vertente familiar do argumento, longe dos holofotes da casa branca e das obrigações de cecil como mordomo, que salva razoavelmente o filme. até porque é sempre suportada pela excelente interpretação de oprah winfrey (como gloria gaines, a mulher de cecil) e de quem já se fala para uma nomeação para o óscar de melhor actriz.
independentemente de não concretizar a dimensão épica a que se propõe, o mordomo, mais uma vez como aconteceu em 1994 com forrest gump, está a ser um sucesso de bilheteira nos estados unidos, tendo ultrapassando os 18 milhões de euros só nos primeiros três dias de exibição.
o elenco de luxo – que além de whitaker e oprah inclui nomes como john cusack, mariah carey, jane fonda, cuba gooding, jr., terrence howard, lenny kravitz, alan rickman, liev schreiber, vanessa redgrave e robin williams – funciona como um dos grandes atractivos do filme, mesmo que as suas participações mais se assemelhem a cameos dos próprios actores do que propriamente à personificação das personagens históricas a que dão vida. por cá, ainda há outro aperitivo: a banda sonora original criada por rodrigo leão.