se pedro moreira da silva, director de comunicação da optimus, tivesse uma bola de cristal, a imagem que gostaria de ver era a do d’bandada, daqui a dez anos, transformado numa espécie de são joão da música. ele explica melhor: “o são joão, independentemente de alguém o organizar, existe sempre. é essa a nossa ambição para o d’bandada. mesmo que daqui a dez anos não organizemos nada, as bandas peguem nos seus instrumentos e venham para a rua tocar e o público venha ver. isto quererá dizer que o porto integrou o d’bandada como uma festa popular da cidade”.
criado há três anos de raiz pela optimus, que decidiu apostar numa estratégia de marketing intimamente ligada à música – patrocinando os festivais alive e primavera sound e fundando a editora optimus discos –, o d’bandada começou por oferecer, em 2011, cerca de 20 concertos gratuitos.
no ano seguinte, a oferta subiu para 50 e, este ano, o cartaz inclui, entre as 15h e as 3h da manhã, mais de 70 actuações. “depois de ter visto a folha em branco e, agora, a programação final, também eu estou surpreendido com a dimensão que as coisas tomaram”, diz ao sol henrique amaro, director artístico do evento.
para dar visibilidade a esse objectivo de tornar o d’bandada uma festa popular, a optimus apelou este ano à participação local e qualquer pessoa que quisesse participar no evento podia apresentar uma proposta de espectáculo. “há uma programação assinada pela casa, mas também queremos não ter o controle total. queremos que sejam os cidadãos a decidir parte da programação e acho que a iniciativa deste ano vai ser um grande indício do que poderá acontecer no futuro”, explica o responsável artístico.
com uma aposta muito forte na música pop, henrique amaro gosta especialmente de destacar as outras actuações mais inesperadas do dia, como as que vão acontecer no varandim da torre dos clérigos, pensadas por tiago pereira (a música portuguesa a gostar dela própria), ou a tertúlia de spoken word organizada pela rapper capicua no café aviz: “além da música, gostamos de pensar nos locais onde ela vai ser mostrada, nessa relação entre arte e espaço. ao convidar o tiago pereira para organizar uma noite com música tradicional portuguesa, pensei sempre colocá-lo num sítio emblemático como a torre dos clérigos. quanto à capicua, ela convidou a cantora angolana aline frazão, o maze, dos dealema, e o andré henriques, vocalista dos linda martini, para uma noite de palavra falada. vamos vê-los num contexto completamente diferente e são coisas que não quero perder”.
neste campo mais experimental, vai ainda decorrer uma estafeta de bandas, com quatro grupos a passar o testemunho uns aos outros, e uma maratona com cinco formações a tocar sem pausas. mas se estas iniciativas dão carácter ao festival, são os nomes sonantes de antónio zambujo, miguel araújo, samuel úria, jp simões, gisela joão e best youth (preste a editar o primeiro longa-duração pela internacional pias) que vão chamar mais público. “o miguel [araújo] e o samuel [úria] são repetentes e estarem novamente connosco é quase uma forma de lhes darmos os parabéns pelo seu sucesso”, diz o director artístico.
sendo esta, actualmente, “a maior manifestação, num só dia, de música portuguesa ao vivo”, a organização aconselha todos os visitantes a fazer um plano do que querem ver, mesmo que depois não o consigam cumprir à risca.
por experiência própria, henrique amaro sabe que há sempre “coisas que se atravessam pelo caminho” e acabam por nos desviar do percurso predefinido, mas uma cábula “à boa moda antiga”, com os horários e locais de actuação, ajuda sempre a não se perder completamente o controle. se isso acontecer, também não há problema. tal como no são joão, haverá festa e música em cada esquina.