Peixe:Avião prestes a levantar voo

Ao terceiro disco, os Peixe Avião simplificaram o processo de composição e tornaram o som da banda mais directo e eficaz.

se tivesse que situar os peixe avião no panorama musical português, numa analogia ao campeonato nacional de futebol, o baterista pedro oliveira hesitaria entre colocar a sua banda “nos lugares cimeiros da segunda divisão” e “os de final de tabela da primeira liga”. “não somos de certeza uma que luta pela europa” – diz, divertido.

pode parecer modesto, mas o músico sabe que, embora os peixe avião já tenham conquistado muitos ‘adeptos’ ao longo dos seis anos de actividade, a confirmação de que são realmente uma banda que ‘joga’ entre os grandes novos talentos nacionais ainda está por vir. mas essa certeza já não deve demorar muito: peixe avião, o terceiro disco do grupo, tem sido apontado como o melhor registo da formação de braga e aquele que vai marcar o ponto de viragem na escalada até à consagração.

as ‘fintas’ deste sucesso são muito simples de contar. enquanto nos dois discos anteriores – 40.02 (2008) e madrugada (2010) – cada um dos elementos da banda construiu trechos de canções individualmente, desta vez os peixe avião decidiram compor, todos juntos, “quase única e exclusivamente” na sala de ensaio. “isso acabou por nos solidificar enquanto banda”, garante pedro oliveira, sublinhando ainda a decisão de minimizar o processo de composição a uma instrumentação básica, no máximo de três acordes por canção.

‘uma crueza maior no som’

esta restrição acabou por se revelar como um dos desafios mais interessantes na criação do disco, com o quinteto a sentir-se impelido a ser mais criativo. “muitas vezes, as bandas comentem o erro de fazerem sempre o mesmo disco. nós tentámos, de certa forma, complicar-nos a vida. acho que isso aguça o engenho e, ao sermos o mais básico possíveis, retirámos excessos e imprimimos uma crueza maior no som”.

por serem uma banda de braga, o legado mão morta é inevitável e pedro oliveira não nega que os peixe avião não se importariam nada de ser um grupo como o de adolfo luxúria canibal. isto “no sentido de ser uma banda que tem um crescimento coeso e sólido e um público sempre muito fiel”, esclarece o baterista. e agora que conquistaram a unanimidade da crítica, a avaliação derradeira para este álbum homónimo é o palco. este sábado tocam em braga, no theatro circo, e no dia 5 de outubro descem até lisboa para actuar no centro cultural de belém. “o theatro circo servirá de teste para aquilo que será o concerto no ccb”, diz o músico, levantando a dúvida sobre se há uma responsabilidade acrescida quando se actua em lisboa. “acaba sempre por haver. é como na europa. se uma banda vinga em londres, vinga no resto da europa. a forma como a tua música é recebida em lisboa é uma maneira de ver como a vida te corre”.

alexandra.ho@sol.pt