Portugal confia numa Merkel mais livre após as eleições

Partidos do arco governativo esperam mudança de política. BE e PCP acham que tudo ficará igual, ainda que Merkel troque de parceiro.

o que interessa não são os resultados eleitorais, mas que passe rapidamente o dia das eleições na alemanha. este é a análise e o desejo de psd e cds, partidos no governo em portugal, que consideram que angela merkel esteve durante os últimos meses «refém» do calendário eleitoral. no ps, está-se atento às sondagens e deseja-se que a chanceler, uma vez reeleita, adopte outro parceiro. isso fará a diferença.

o social-democrata paulo rangel acredita até que a alternância não traria nada de novo. «ganhar a cdu ou o spd não seria assim tão diferente para portugal. o facto relevante é passar o ciclo eleitoral», sintetiza ao sol o eurodeputado, considerando que houve da parte de merkel «uma certa paralisia» por causa dos cálculos eleitorais. dá como exemplo a união bancária, cujo adiamento a alemanha forçou.

o ps antecipa efeitos positivos de uma mudança na coligação no poder. «a nossa expectativa é que isso se traduza na alteração da posição alemã no conselho europeu. o governo português pode tornar-se na segunda-feira no único governo europeu a defender a austeridade e o empobrecimento», diz joão ribeiro, responsável pelas relações internacionais do ps.

a vitória de merkel é um dado garantido nas sondagens, o que faz a bloquista marisa matias reflectir também sobre a geometria do governo alemão. mas as conclusões são diferentes das do ps. «sinceramente não há muito que se possa esperar de uma troca de parceiro», diz a eurodeputada, apoiando-se no exemplo de um recente debate. «na questão do aumento da dívida da grécia, não havia posições divergentes entre a cdu e o spd. os dois candidatos não reconhecem responsabilidades alemãs ou europeias».

o comunista joão ferreira também vê poucos sinais de esperança vindos de berlim: «os portugueses fazem bem em confiar em si próprios para fazer as mudanças necessárias, em portugal e na europa». o eurodeputado lamenta que a influência da alemanha na europa tenha sido favorecida pelos partidos que «apoiaram a mudança dos tratados, impondo um directório, e que agora se queixam do poder desmedido dos alemães». a farpa vai (também) para o ps. o socialista joão ribeiro propõe-se, porém, ajudar a «abrir um debate sobre o federalismo europeu no dia a seguir às eleições alemãs».

o ex-ministro dos negócios estrangeiros freitas do amaral partilha a tese benévola do ‘efeito pós-eleições’. no final da oitava e nona avaliações da troika, que estão a decorrer, pode vir de berlim «algum sinal de que não haja tanta exigência», pois já terão decorrido as eleições. «é um momento decisivo para portugal, é um momento decisivo para o governo, acho bem que portugal exija mais do que exigiu em avaliações anteriores, mas não é aqui em lisboa que se tem de exigir, é em berlim», insiste.

helena.pereira@sol.pt e manuel.a.magalhaes@sol.pt