não é só pela perda de grandes câmaras que passos coelho perde. é pela hecatombe que os votos nacionais vai, tudo o indica, demonstrar. seara, menezes, pedro pinto e abreu amorim foram penalizados de tal forma que não há maneira de disfarçar nada.
a questão dos próximos dias é, agora, o que esta derrota representa para o governo. passos coelho não tem mais cartas na manga. a crise política de junho esgotou a prometida remodelação do governo. com a troika em lisboa, nem nas palavras é possível inverter a política. sobra-lhe antecipar o congresso do psd, como esta noite sugeriu marques mendes, para acalmar os ânimos do partido antes das europeias (que a avaliar pelos resultados de hoje serão um inferno para a coligação). é, obviamente, muito pouco. amanhã mesmo a sic passa uma entrevista a rui rio, onde este diz claramente não ter mais desculpas para recusar próximos convites para entrar na política nacional.
é óbvio que as próximas semanas, os próximos meses, vão ser um filme assustador para passos coelho. aproxima-se um orçamento terrível, aproximam-se novas decisões do tribunal constitucional. lá fora, os olhos da europa e dos investidores estarão cada vez mais postos sobre nós, especialmente depois da saída da irlanda do seu programa de ajustamento. é óbvio que o governo resistirá à noite de hoje – guterres demitiu-se em 2001 não por perder as autárquicas, mas porque as perdeu sem maioria na assembleia. mas depois de hoje será ainda mais difícil governar.
à esquerda, porém, as vitórias ainda não dão para ter tantas certezas. o bloco de esquerda perdeu. o ps divide a sua (inequívoca) vitória com a cdu e alguns independentes (rui moreira é o homem da noite). a dúvida não é já se antónio josé seguro vai ser o candidato do ps a primeiro-ministro. é como pode partir daqui para construir uma maioria com governabilidade à esquerda. se o governo chegar às europeias, seguro terá a derradeira oportunidade de mostrar que o consegue.