o olympia é uma sala especial para os fadistas. durante quanto tempo sonhou pisar aquele palco?
na realidade, nunca sonhei pisar aquele palco. primeiro, porque nunca tinha entrado no olympia antes de lá ir cantar e, depois, porque tenho feito com que seja a vida a oferecer-me momentos e experiências desta natureza. mais do que ansiar ou desejar as coisas, espero que elas aconteçam. apesar de, enquanto artista, ambicionar pisar os palcos mais conceituados a nível mundial, tenho a sabedoria de saber esperar pelos momentos certos. e aquele foi o momento certo para que isso acontecesse.
qual é o fascínio do olympia?
é uma sala mítica que ‘carrega’ no seu nome o peso dos grandes vultos da cena musical internacional e, por isso mesmo, faz com que me sinta muito honrada por pertencer ao leque de artistas que pisou o palco do olympia. enche-me de orgulho saber que naquela sala, e naquele mesmo palco que eu pisei, cantaram nomes como a edith piaf, jacques brel, charles aznavour e amália rodrigues, que fez com que o olympia fosse a ‘casa de fados de paris’. durante muitos anos a amália fez longas temporadas no olympia, exactamente pela história que a sala passou a ter no fado. naturalmente que o mistério de pisar aquele palco e a carga energética que se sente naquela sala fazem com que se continue a sonhar cantar ali. o olympia continua a ser mítico.
além da satisfação natural por estar naquele palco, o que tornou aquela noite tão especial?
a partilha intensa das emoções com o público que nos recebeu de uma forma muito entusiástica e a cumplicidade entre mim e os meus músicos, como aliás se evidencia nesta gravação, foi arrepiante e comovente. todos estes factores se conjugaram e fizeram com que o concerto fosse ainda mais especial do que esperava.
mas superou as suas expectativas?
superou muito. primeiro, porque achava que os nervos e a ansiedade iriam tomar conta da minha capacidade de concentração e da minha entrega em palco. isso acabou por não acontecer e o espectáculo fluiu duma forma muito natural, devido também, à forma calorosa como o público me recebeu. esse entusiasmo e carinho foram-me deixando muito serena, numa noite que me deixou muitas outras noites sem dormir.
já foram para paris com a ideia de gravar o concerto para, depois, lançar um cd e dvd ao vivo?
a decisão de gravar este cd e dvd foi tomada dois dias antes do concerto. eu já estava há uma semana em paris a preparar essa noite e a fazer promoção, mas só dois dias antes é que percebi, depois de uma visita técnica à sala, que aquele era o momento. senti-me preparada para fazer este registo que acaba por eternizar o meu percurso artístico, que não sendo muito longo já tem algum peso.
porque escolheu este concerto e não, por exemplo, o de há dois anos no coliseu dos recreios, em lisboa, a propósito dos seus 10 anos de carreira?
não foi uma escolha, aconteceu de uma forma muito espontânea… foi quase um impulso.
havendo muitos luso-descendentes em paris, sentiu portugal na plateia?
claro que senti portugal na plateia, apesar de, haver mais franceses do que portugueses. mas portugal fez-se sentir de forma muito calorosa e isso ajuda sempre!
a determinado momento no concerto diz que não sabe ‘viver sem momentos como este’. sente-se melhor a música em palco?
o palco é muito importante para qualquer artista, o fadista não é excepção. é lá que se criam coisas novas e é lá que se partilha aquilo que significa o fado, a intensidade das emoções e dos sentimentos. precisamos do palco, sobretudo para quem não canta habitualmente em casas de fado, como é o meu caso, porque é a nossa casa de criação e inspiração. os espectáculos fazem com que o fado cresça artisticamente, cresça internacionalmente, seja cada vez mais respeitado e encarado como outro qualquer género musical.
em que outros projectos está actualmente envolvida?
apesar do katia live at the olympia ter saído agora, começo já a concentrar-me no meu novo disco de originais. tenho saudades do processo que envolve a gravação de um novo disco. a escolha do reportório, os ensaios, a criação de coisas novas, o estúdio… esse será o meu novo projecto a curto prazo. na primavera do próximo ano terão novidades.