faz o seu papel e tem-se demarcado bem dos conflitos que aconteceram em manifestações recentes. esse ‘certificado’ de sindicalista avesso a conflitos com as polícias, permitiu-lhe agora avançar para um ideia verdadeiramente peregrina: fazer uma manifestação em plena ponte sobre o tejo!
arménio carlos não é nenhum menino de coro e sabe muito bem o impacto de tal manifestação. além de paralisar a ponte, impedindo milhares de pessoas de fazerem a sua vida normal, pretende dar à ocasião um carácter simbólico: relembrar o bloqueio da ponte que esteve na origem do fim do cavaquismo, quando o actual presidente da república era primeiro-ministro.
mas esta sua atitude revela alguma inconsciência, já que, se não sabe, devia saber que a ponte sobre o tejo é um local de alto risco para atravessamentos a pé e onde, inclusive, se registam muitos suicídios. mas imaginemos que arménio carlos acredita que ‘os seus seguranças’ conseguem controlar, além dos manifestantes, hipotéticos suicidas. alguém acredita que tal é possível, num ambiente inflamado onde será natural que se juntem alguns agitadores profissionais? quererá arménio carlos ficar com esse ónus? dir-se-á que também se realizam corridas no tabuleiro da ponte e que não há registos de tais histórias. mas um ambiente de festa tem alguma coisa a ver com uma manifestação onde as pessoas estão revoltadas com tudo o que se tem passado e propensas a atitudes menos ponderadas?
parece-me, pois, inadmissível que se permita que tal manifestação venha a ocorrer no local. já se sabe que não há autorização, mas as autoridades policiais não devem permitir que uma multidão em protesto possa atravessar a ponte a pé.
sendo as manifestações um direito consagrado na constituição, também não deixa de ser verdade que as mesmas não podem pôr em causa a segurança pública. imaginemos que ocorre um grave acidente na margem sul e que as ambulâncias e bombeiros teriam que passar no meio dos manifestantes. alguém ficaria seguro? além disso, não há outro lugar para se manifestarem sem incomodarem quem não quer ir à manifestação? l
vitor.rainho@sol.pt