segundo o seu pai contou ao sol [em artigo publicado na tabu da semana passada], aos sete anos já jogava ténis na sala de jantar. como nasceu a paixão?
tudo começou quando o meu pai me levava com ele para o clube de guimarães. aí nasceu o bichinho. comecei a bater bolas contra as escadas de acesso aos courts e depois a ter aulas de iniciação. estava sempre a querer a jogar, em qualquer sítio, a qualquer hora. e sim, um dos sítios era mesmo a sala lá de casa.
em que momento decidiu apostar numa carreira a sério no ténis?
o passo mais importante foi quando aos 15 anos decidi seguir o meu sonho de ser profissional de ténis e fui para barcelona.
como foi viver desde tão novo no estrangeiro, longe da família?
fui para um país com costumes não muito diferentes, mas não sabia falar espanhol e muito menos catalão. deixei a família e os amigos para trás e foi difícil até me ambientar.
alguma vez pensou em desistir?
não. isso foi uma das coisas que me levou a singrar. sempre acreditei que viria a ser um grande jogador, e hoje acho que as pessoas me consideram como tal. nunca desistir é talvez das melhores coisas que tenho.
o seu pai também adiantou ao sol que, quando era mais novo, a sua mãe ia a barcelona visitá-lo e deixava-lhe comida em tupperwares. não sabia cozinhar ou não tinha tempo?
ela fazia a comida e deixava-me os tupperwares. tinha pouco tempo para ir a casa almoçar e voltar para os treinos, e ela ajudava-me na medida do possível. eu na altura não sabia cozinhar, mas tive de aprender, se não também não comia. gastar dinheiro em restaurantes não era nem é uma das minhas prioridades. a minha mãe ajudou-me imenso e estou-lhe muito agradecido.
hoje já faz a sua comida?
hoje faço sozinho e posso dizer que sou um grande cozinheiro. nós, desportistas, comemos muita massa e hidratos de carbono, e gosto de ser eu a preparar a minha comida porque assim sei o que estou a comer. prefiro muito mais cozinhar a ir comer fora.
quando não anda pelo mundo em torneios, quantas horas por dia treina em barcelona?
entre cinco a seis. passo cerca de três no campo e faço mais duas e meia a três de treino físico.
um tenista viaja muito. em quantos países já esteve, tem ideia?
não, nunca parei para pensar nisso. mas já estive em muitos. realmente, já passei por todos os continentes. só não fui à antártida.
de que país mais gostou?
isso é uma pergunta difícil. não temos muito tempo para visitar os países onde estamos. não conseguimos visitar grande coisa das cidades nem conhecer os costumes ou as pessoas. é sempre clube-hotel, hotel-clube. penso que ficaria com portugal. sinto orgulho de ser português e é realmente um país dos que mais gosto. adoro o meu país.
como está o ténis em portugal?
tem vindo a evoluir. já tivemos quatro jogadores no top-200 em simultâneo. temos o talento, disso não há dúvida, mas faltam apoios. hoje já existem algumas condições que no meu tempo não existiam, mas são poucas. faltam pessoas que confiem mais em nós. tenho esperança de, com os feitos que tenho alcançado, poder ajudar a mudar a mentalidade das pessoas que nos podem ajudar.
há talento desperdiçado?
muito.
jogadores que poderiam estar a fazer o mesmo que o joão?
com certeza que sim. e não só no ténis, também noutras modalidades. temos consciência que o futebol é o desporto-rei… mas se houvesse mais apoios para os outros, atrevia-me a dizer que teríamos melhores jogadores em todas as modalidades.
considera que foi o primeiro português a vencer um torneio atp por ter tido a oportunidade, e a ajuda, de evoluir em barcelona?
nunca tive ajuda sem ser dos meus pais. infelizmente é assim. os meus pais tiveram de fazer muitos esforços para me ajudarem a realizar o sonho de ser profissional de ténis. e agora estamos a colher os frutos. ao fim de muitos anos de trabalho, sinto que estão orgulhosos de mim.
hoje já não precisa de lhes pedir dinheiro para estar no ténis.
não, agora já faço frente aos gastos com o dinheiro que ganho [461 mil dólares acumulados em prize money ao longo de 2013].
há um ano revelou que não tinha o apoio de patrocinadores. a situação mudou entretanto?
continuo a contar só comigo, foi assim toda a minha carreira. conto comigo e com a minha família, além dos treinadores e pessoas que me apoiam.
quais são as suas expectativas até ao final da época? acredita que pode terminar 2013 no top-50?
obviamente, o top-50 não era um dos objectivos para esta época, mas depois do que fiz seria um luxo. ainda vou disputar mais três torneios até final do ano, em moscovo [na próxima semana], valência [21 a 27 de outubro] e paris [28 de outubro a 3 de novembro], e posso fazer mais pontos para acabar 2013 no top-50.
e para 2014, quais são os objectivos?
não gosto muito de falar de números. para mim o importante é manter os pés bem assentes na terra e continuar a trabalhar como tenho vindo a fazer. sou humilde o suficiente para saber que ainda há muitas coisas a melhorar. para conseguir novos feitos ou até mesmo para repetir os que já concretizei, tenho de trabalhar muito. se me centrar nisso, poderei vir a alcançar grandes feitos.
quem é o melhor tenista de todos os tempos?
para já é o federer. mas não tenho dúvidas de que o nadal ainda vai dar que falar. está muito forte e até lhe pode tirar esse mérito.