Os chefes de Estado e os pontapés no protocolo

Mais teso que um cabo de vassoura. Assim descreve o El Mundo a desastrosa prestação do primeiro-ministro Mariano Rajoy durante a visita no início do mês ao palácio do imperador japonês Akihito. Se o protocolo obriga a um cumprimento acompanhado de uma leve inclinação do corpo, 15 a 30 graus, em sinal de respeito, o chefe…

“estender a mão ao imperador nipónico como se estivesse a cumprimentar o porteiro, não só é inapropriado como pode levar os japoneses a considerar o acto como uma absoluta falta de respeito perante o seu chefe de estado”, criticou o el mundo.

o incidente acabou por dominar as atenções da imprensa espanhola e nipónica durante a visita de rajoy ao japão, eclipsando a deslocação do chefe de governo conservador a fukushima, onde expressou a solidariedade de madrid perante o combate à catástrofe nuclear causada pelo tsunami de 2011.

porém, e em declarações à rádio cadena ser, o presidente da escola internacional de protocolo, gerardo correas, admite que rajoy “não se deu conta” da gafe, afastando a ideia de uma ofensa premeditada. mas para o futuro, correas deixou o conselho: “o protocolo japonês não é algo rígido, mas estabelece que uma leve inclinação da cabeça e das costas, de uns 15 graus, é o cumprimento quotidiano. e quando nos apresentam a alguém pela primeira vez, devemos inclinar-nos uns 30 graus”.

“era isso que rajoy e obama deveriam ter feito”, disse o especialista em etiqueta. em novembro de 2009, o presidente norte-americano barack obama excedeu-se no cumprimento ao imperador japonês e inclinou o tronco a 90 graus. em vez de reverência, saiu-lhe um gesto de submissão e rendição. o acto enfureceu na altura a oposição conservadora norte-americana, que acusou obama de prestar vassalagem a líderes estrangeiros. é que, segundo o protocolo da casa branca, o presidente dos eua não se curva perante ninguém. mas no mesmo ano, obama fez outra vénia exagerada, desta vez ao rei saudita abdullah.

não é só no japão que o protocolo tem pregado partidas a presidentes e chefes de governo ocidentais. no ano passado, e durante uma visita história à birmânia, obama embaraçou o nome da nobel da paz aung san suu kyi ao abraçá-la e beijá-la num país onde as demonstrações públicas de afecto são censuráveis.

outra obama, a primeira-dama michelle, também pisou uma linha vermelha em 2009 ao colocar um braço à volta da rainha isabel ii de inglaterra – que ninguém deve tocar, de acordo com o protocolo do palácio de buckingham. mas enquanto aung san suu kyi tentou fugir ao contacto físico de barack, a monarca britânica retribuiu o gesto de michelle.

a rainha de inglaterra protagonizou outro momento caricato do actual chefe de estado norte-americano em 2011, quando barack obama decidiu fazer um brinde a isabel ii no preciso momento em que a banda do palácio de buckingham tocava o hino britânico. quando o presidente terminou a dedicatória, acenou com o copo à rainha, que não retribuiu o gesto nem sequer o olhar. permaneceu de pé, em pose cerimonial, a escutar o hino como os demais convidados do jantar de estado – como manda o protocolo.

os obamas já são mesmo considerados pelos especialistas como campeões em gafes protocolares. o anterior recorde era apontado ao ex-presidente dos eua george w. bush, que em 2006 tomou a liberdade de massajar os ombros de uma estarrecida angela merkel numa reunião do g8 em são petersburgo.

pedro.guerreiro@sol.pt