o deputado do ps joão galamba escreve hoje que o cautelar “não o é” – é antes um novo resgate, que impõe mais austeridade e novas medidas. o joão galamba é dos deputados que mais defendeu o pec4 e a necessidade da sua aprovação, sendo que o pec4 era mais ou menos o mesmo que este cautelar que se aproxima: uma linha de apoio do bce, sob condição de o governo impor mais medidas de austeridade.
já o assessor económico de antónio josé seguro, óscar gaspar, escreveu hoje no jornal de negócios que vamos precisar de um novo resgate (seja qual for o nome) porque os juros são hoje proibitivos e nos vão empurrar para esse buraco. os juros de que fala gaspar são os 6,2% a dez anos. se chegarmos a junho com este número ele pode bem ter razão. mas para se ter uma posição coerente, teremos que concluir que os juros acima de 7% que tivemos em 2010 e 2011 nos deviam ter levado directo para um pedido de ajuda, sem recurso a cautelares ‘avant la letre’ como o… pec4.
se juntarmos a isto tudo a vontade do ps de se pôr de fora da assinatura do próximo programa (cautelar ou não), temos uma formulação que mais parece a do prof marcelo à beira do referendo do aborto: passos coelho devia ter apoiado o pec4? sim. mesmo não acreditando no governo e no seu caminho? sim. mas seguro deve aceitar o próximo programa? não. porquê? porque um outro programa é um falhanço do governo. pois.
mas eu não acredito e não defendo que um programa cautelar seja branco, na escala de preto e branco. convém mesmo sublinhar que a base argumentativa do ps contra o cautelar tem pontos verdadeiros e sobre os quais devemos pensar. primeiro: é verdade que o cautelar, em qualquer forma que tenha, não é o fim do protectorado como argumenta o governo. vai trazer sempre novas medidas, mais problemas, nova consolidação. segundo: é verdade que portugal não está na mesma posição que a irlanda (que ainda tenta escapar até ao cautelar) e que terá provavelmente sempre um programa mais difícil que dublin.
sim, tudo isto é verdade – mas isso não significa que seja indiferente ter um cautelar ou um segundo resgate.
e, já agora, sendo isto verdade, convém também perguntar sempre porquê. os juros estão a 6,2% porquê? portugal vai precisar de mais medidas porquê? desconfio que na procura de respostas a estas questões e de soluções para lhes responder vamos ter outras discussões interessantes. o meu desejo é que não sejam a preto e branco outra vez.