nesses dias seguro conseguiu uma coisa: passar dos 485 euros para os 600 o limite a partir do qual havia um corte; e dos mil euros para os 1100 a fasquia a partir da qual os subsídios eram inteiramente cortados.
na altura o ganho pareceu pequeno – mas não era. materializava-se em algum rendimento a mais, em 2012, para famílias com parcos rendimentos. hoje percebe-se que o ganho do líder socialista foi muito superior a isso: a fasquia dos 600 euros acabou por vingar automaticamente nas medidas do governo até ao orçamento que agora se discute. vale para o corte de pensões na cga, e também para os vencimentos dos funcionários públicos, previstos para 2014.
lembrei-me disto quando nestas semanas um deputado da oposição me perguntava “por que raio são 600 euros e não menos ou mais” o tal limite a partir do qual o governo pretende cortar salários. a resposta correcta seria: porque antónio josé seguro fez alguma coisa para que não fosse menos.
na história de dois anos de liderança do ps – e falando do interesse colectivo – talvez essa seja a melhor bandeira que seguro tem para mostrar. infelizmente, o líder do ps não se tem lembrado dela.
serve esta história para dizer o que é óbvio: há duas maneiras de fazer oposição, uma mais construtiva do que a outra. e que o ps vive hoje o dilema de escolher entre correr riscos de popularidade, ajudando o país a sair do buraco; ou evitar esses riscos e correr outro, o de que o país lhe caia nos braços num estado irrecuperável.
ontem mesmo, nas páginas do público, francisco assis teve a ousadia de dar a sua resposta: “o ps tem a obrigação” de mostrar que há uma alternativa. “esse poderá ser um caminho estreito, é contudo o único caminho que dá sentido à acção política da esquerda”.
é meu entendimento que antónio josé seguro está ainda em tempo de seguir o conselho. não há dia que passe sem que haja um bom motivo para o ps exercer a sua influência. seja a discutir as medidas da reforma do irc; seja a melhorar os novos programas do ensino secundário; ou a defender o aumento do salário mínimo. seja até na discussão mais lata da reforma do estado – onde tem razão para pedir ao governo que concretize o guião, mas não tem argumentos para evitar o debate público.
já escrevi e reitero: seguro tem hoje o segundo pior cargo do país – pior só há um, aquele que ele deseja ter. mas se quiser realmente ser útil ao país, como líder da oposição ou como chefe de governo, tem que pôr o ps ao seu serviço. sob pena de ficar como françois hollande, hoje paralisado pelo medo da contestação, pela sua retórica passada e pela ausência de um programa alternativo.