Correr atrás das maratonas

Sete. Este é o número de maratonas que Filipa Elvas, 37 anos, já fez. E não se limitou às maratonas ditas ‘normais’. Depois de Helsínquia, Varsóvia, Miami e Chicago, aventurou-se na Grande Muralha da China e agora na Gronelândia. “Já estou equipada para ir correr”, diz Filipa num tom efusivo quando atende o telefone ao…

quando não está a correr, filipa elvas trabalha como assistente de bordo da tap, equipa à qual se juntou em 2007. já na transportadora aérea, fez parte do triatlo clube tap onde esteve durante dois anos. mas como diz a própria, nadar e pedalar não eram a sua “praia”. em 2011 apaixonou-se pela corrida. a primeira prova foi os 8 km da corrida marginal à noite. seguiram-se os 15 km da corrida das fogueiras, os 21 km da meia maratona do rio de janeiro, até que decidiu aventurar-se nos 42 km de helsínquia.

“faço duas maratonas por ano, mas este ano foi uma excepção porque já fiz a muralha da china e berlim”, lembra a assistente de bordo que corre mundo atrás da prova-rainha do atletismo. na china galgou 20.500 degraus em 7h50, a única mulher a chegar ao fim. agora, na gronelândia, acabou por enfrentar temperaturas de cerca de -20ºc, mas mesmo assim conseguiu o primeiro lugar entre as participantes femininas. calcula-se que a preparação tenha sido dura. “não me preparei”, confessa.

filipa elvas admite que nunca se informa sobre os percursos das provas a realizar. “vou lá e dou tudo de mim, porque correr é uma paixão”, solta, explicando também que gosta de correr sozinha, mas nunca diz que ‘não’ a um ou outro amigo que às vezes a querem acompanhar nos treinos. “há uns que gostam de falar, mas eu prefiro ir em silêncio, sem música, sem nada”.

o aumento de corredores a solo ou de grupos que se juntam para correr têm-na deixado com um sorriso dos lábios. “é uma questão de consciência de que fazer desporto faz bem à saúde e à cabeça”, defende, dizendo ainda que não se trata de uma moda passageira, mas sim de um primeiro passo: “isto não vai acabar, é um começo”.

para diogo assunção o começo foi em 2012. “pesava 123 kg e meço pouco mais de um metro e 70, isto já tocava quase a obesidade mórbida”, diz ao sol, lembrando que na altura o seu pai teve um acidente cardiovascular e ele próprio sentia dificuldades em brincar com os quatro filhos. “isto tudo fez-me pensar e decidi perder peso”. começou pela dieta. “ao fim de um ano perdi 23 kg e baixei da barreira dos 100kg”. seguiram-se os passeios de bicicleta. as corridas só vieram quando chegou aos 93 kg. “aprendi a correr aos 41 anos. a primeira corrida foi no jardim da estrela [lisboa] em 2011, corri 150 metros e fiquei derreado”.

mesmo assim não desistiu e voltou. sempre que tentava, corria mais um bocado. até que chegou aos 2 km. “percebi que fazer desporto era fundamental para manter o peso baixo e que tinha de me impor metas”, conta antes de revelar o objectivo atingido há três semanas: “fiz a maratona”, diz, visivelmente orgulhoso. “mas estava mais dorido depois de ter corridos os tais 2 km do que quando acabei a maratona”. hoje pesa 82 kg e com entusiasmo fala das suas marcas: “aos 41 anos perdi 41 kg e corri 42 km em 4h43m45s”.

engenheiro informático de profissão, diogo já atingiu o seu intuito e estabeleceu novas metas. a próxima é já em abril quando for a madrid correr uma maratona. “outro objectivo é correr uma maratona em menos do dobro do recorde mundial”. para isso terá de fazer os 42km num máximo de 4h06h45s.

a história é inspiradora, mas para muitos a palavra maratona ainda se situa no campo dos sonhos inalcançáveis. ou talvez não. diogo assunção acredita que está ao alcance de todos: “é possível, desde que se queira e que as pessoas se empenhem”.

joana.barros@sol.pt