como começou o processo?
em 2005 já tinha feito um documentário sobre álvaro cunhal – que por sorte acabei oito dias antes de ele morrer e que foi passado pela sic no dia do seu funeral – e portanto tinha muita informação recolhida. há um ano e meio comecei por falar com o pcp porque, sendo quem é, detém quase um monopólio de imagens, até por pessoas que estão na orla do pcp e só cedem imagens ao partido.
foi fácil obter as imagens?
com o pcp há sempre um certo obstáculo. não posso dizer que a relação tenha sido complicada, até porque já me tinham ajudado para o documentário. só que me cederam um lote de imagens que era aquilo que cediam a toda a gente. nenhuma novidade. a partir de certo momento disseram-me que iam fazer o livro e que não iam dar mais fotografias. mas chamo a este livro uma biografia ilustrada porque tem um texto desenvolvido.
o pcp impôs algumas condições para a utilização das fotografias?
não, não. cederam sem qualquer condição. houve muitas fontes, mas um trabalho destes passa necessariamente pelo repositório do pcp, que inclusive me forneceu imagens que desconhecia.
alguma que destaque?
eles próprios publicaram algumas imagens surpreendentes, como o cunhal a jogar bowling, na alemanha oriental. e também com a filha na união soviética.
esse lado privado foi o que mais o surpreendeu?
sim. já tinha estudado o seu percurso biográfico. neste caso, o mais revelador foi a sua vida privada. como a história, que foi mantida confidencial até há pouco tempo, de ele se ter separado da mãe da filha para ir viver com a cunhada, quando estavam as duas em moscovo com ele, pois eram funcionárias do partido. cunhal teve muitas aventuras amorosas.
isso contraria a imagem austera que sempre se teve dele.
exactamente. e penso que foi por isso que sempre manteve muito secretismo acerca da vida privada. falou uma vez dos netos numa entrevista ao carlos cruz e foi uma bomba.
tem sido muito comentado o corte feito pelo pcp a uma foto na qual aparecia álvaro cunhal e mário soares…
levantei a questão de, na fotobiografia do pcp, cortarem toda a gente que não foi incondicional do cunhal, companheiros do partido que depois cindiram. carlos brito é o caso mais gritante. foi líder parlamentar, um dirigente muito importante. mas como saiu do pcp, apagaram-no. mas a polémica foi maior por causa de mário soares. na foto da chegada de cunhal a lisboa, vindo do exílio após o 25 de abril, soares está à espera dele no aeroporto e subiram ambos ao blindado. na fotobiografia do pcp cortaram a fotografia para soares não aparecer.
pode-se dizer que foram coerentes com a sua história?
foram coerentes com a sua prática tradicional. isso vem dos tempos da união soviética e, nessa medida, não há nenhuma novidade. o próprio carlos brito acusou-os de estalinismo.
para quem retratou as vidas de soares e cunhal, que relação tinham?
acho que o cunhal nunca encaixou o facto de soares ter sido um discípulo e depois ter emergido como um dirigente político com um estatuto igual ao dele. sempre teve uma atitude de sobranceria e nunca houve afectividade entre os dois. o cunhal tratou sempre soares com rispidez. falavam o estritamente necessário para a negociação política.
mas eram mais parecidos do que se poderia pensar?
não. são muito diferentes. acho que cunhal é mais parecido com salazar, em termos de perfil pessoal; enquanto soares é mais parecido com sá carneiro. distinguiria entre aqueles que deixam comida no prato e os que comem tudo até ao fim. soares e sá carneiro são dos que deixam comida no prato, cunhal e salazar são aqueles que comem tudo até ao fim. soares é um bon vivant, tem de dividir o tempo entre a política e os prazeres. cunhal sacrificou tudo à política. podia ter sido escritor ou pintor, mas deu prioridade à vida partidária. para soares o desempenho da política era um prazer, para cunhal era um dever que achava ter de levar até ao fim.
cunhal recusou sempre ser biografado. o que acha que diria deste livro?
não diria nada. se calhar nem via. sempre achou que ninguém poderia fazer a sua biografia como ele. e portanto, qualquer biografia que se fizesse, ficaria incompleta.
chegou a entrevistá-lo?
cheguei, para o expresso. tanto soares como cunhal – e outros políticos também – punham como condição ler os textos antes de publicar e corrigir as respostas. o soares mudava muito mais do que o cunhal, o soares mudava tudo. nas entrevistas expunha-se completamente e depois, quando olhava para aquilo no papel, começava a corrigir. o cunhal media muito bem as palavras e portanto aquilo que corrigia era pouco. mas numa entrevista que lhe fiz, já depois da queda do muro de berlim, fez os seus pequenos acertos, mas, além disso, cortou uma pergunta minha e a resposta. não aceitei e acabei por publicar a minha pergunta e a resposta dele. ficou furioso.
escreveu mário soares: uma vida, mas diz-se que teve sempre uma relação conturbada com o ex-presidente da república e que ele chegou a virar-lhe as costas numa entrevista para o expresso.
não virou as costas, mas ficou furioso. parecia que a entrevista ia acabar ali. por uma questão que lhe fiz sobre macau, uma história que passava por ele e que afectava a sua imagem enquanto presidente. resolvi insistir e, às tantas, ele, furioso, acusa-me de estar a ter um comportamento policial. quando o soares perde as estribeiras é uma tempestade, fica com um comportamento irascível. estava eu, a clara ferreira alves, o josé antónio saraiva e o henrique monteiro, no palácio de belém, entreolhámo-nos e achámos que ele ia suspender ali a entrevista. mas lá se acalmou e seguiu até ao fim. quando saiu a entrevista mantivemos essa parte e, além disso, eu escrevi um texto bastante violento que dizia, entre outras coisas, que o soares teve conhecimento prévio do tal fax de macau, que é algo que ele não quis admitir na entrevista.
como se deu o reatar de relações?
estivemos quase 20 anos sem nos falarmos. até que o reencontrei, por mero acaso, à porta da biblioteca nacional. na altura eu era provedor do público e tinha publicado uns textos sobre a questão das escutas de belém, em que um assessor do cavaco teria plantado uma notícia no público, e disse que o jornal tinha obrigação de investigar as responsabilidades políticas de cavaco nesse assunto. o soares estava eufórico com isto, então, vê-me e diz: ‘ainda bem que o vejo! queria felicitá-lo por aquele texto extraordinário! e estou a dizer isto independentemente do que se passou entre nós no passado. considere que isso está sanado!’. aproveitei e disse que tinha recebido o encargo de escrever a sua biografia e queria falar com ele.
e depois correu bem?
até à última conversa, quando voltei a levantar a questão de macau. [risos] mas quando ele me ligou depois, o que o chocava mais não era isto, mas a questão da vida privada, nomeadamente das relações extra matrimoniais. à antena 1 chegou a queixar-se de que a biografia tinha causado sofrimento na família. quando o livro saiu ligou-me, ainda não o tinha recebido, a dizer que me ia processar. depois, já com o livro, ligou-me mais calmo. tinha ido ao índice remissivo e tinha visto que não havia lá referências a nenhuma pessoa em concreto. eu disse-lhe que ele estava no estatuto dos reis e das rainhas, e que se escreviam imensos livros sobre os seus amores.
voltaram a falar?
não.
é mais complicado fazer uma biografia quando o seu objecto ainda é vivo?
há questões mais delicadas. estamos mais à vontade quando o biografado já morreu. não direi que me autocensure, mas acho que há sempre um certo constrangimento.
nomeadamente sobre a vida privada?
sim, mas no caso do soares, por exemplo, falei da vida privada porque estava a fazer uma biografia total. e quando falamos de figuras que entram na galeria da história, há um interesse do público pela biografia completa dessas pessoas. e uma das fontes que usei foram as cartas da maria barroso, que ela publicou no sol, e aí já se abria uma porta para a vida privada.
ainda assim, há nomes que deixou por revelar na biografia de soares.
sim. sobretudo pessoas que são ainda vivas. acho que é o tal limite que o autor terá de impor. até porque há leis que protegem a vida privada das pessoas.
há muito material que deixa de fora? qual o critério?
tenho uma obsessão pela pesquisa e tenho sempre pena de deixar coisas de fora. excluir é um drama para mim… mas não me autocensuro, o critério é editorial. sou jornalista e procuro ser independente e publicar as coisas doa a quem doer. mas temos sempre que fazer opções e seleccionar o mais relevante. no caso do cunhal acho que não excluí nenhuma fotografia da clandestinidade a que tivesse lançado a mão. até porque o que há é rarefeito.
normalmente quanto tempo demora a concluir uma biografia?
vou fazendo outras coisas, não estou a tempo inteiro num só projecto. neste caso foi à volta de um ano e meio, mas se tivesse só um projecto, acho que demoraria menos de um ano.
e recorre a ajudas ou faz tudo sozinho?
há sempre ajudas pontuais. é preciso pedir coisas a muita gente, informações e imagens, há muitas portas que se fecham, muitas tentativas que acabam por sair frustradas… há pessoas que não querem falar, na área do pcp ainda pior porque é um universo que continua fechado. por exemplo, falei com a mãe da filha de cunhal ao telefone, mas não esteve disponível para falar. já a irmã de cunhal, eugénia, foi de uma total disponibilidade: foi ela, por exemplo, quem me arranjou uma fotografia inédita de todos os irmãos juntos.
criou simpatia por figuras pelas quais antes não nutria esse sentimento?
quando se faz uma biografia, cria-se sempre uma certa empatia com o biografado. mas o autor terá sempre de ter cuidado de forma a não embarcar nessa simpatia. é preciso fazer um esforço para manter as distâncias.
estas personagens tomam conta da sua vida?
quando se está a fazer o trabalho está-se sempre a pensar nisso, num aspecto ou no outro, no que falta fazer. estamos sempre a carburar mentalmente à volta do biografado. é inevitável.
biografou almada negreiros, joshua benoliel, salazar, marcelo caetano, mário soares e álvaro cunhal. qual o que mais admira?
é difícil. não estou de acordo com a ideologia comunista de cunhal, nem com a ideologia protofascista de salazar; o que não quer dizer que não considere que são figuras fascinantes como objectos biográficos, que são. de resto, e apesar de já ter estado na extrema-esquerda, acho que aquele que teve um papel mais importante do ponto de vista daquilo que eu perfilho como ideias é mário soares. com todos os seus defeitos, que são muitos, está mais dentro daquilo que posso aceitar como ideário político, embora não compreenda bem esta deriva para uma certa esquerda quase marginal, que quase parece um regresso às origens. mas isto não quer dizer que o tratasse de uma forma mais branda do que os outros.
disse que já não era extremista. na juventude chegou a estar preso. o que aconteceu?
como estudante no técnico estive envolvido num movimento de contestação ao regime, os comités comunistas revolucionários marxistas-leninistas. aquilo, visto à distância, era tudo bastante anedótico – algo que, de resto, está muito bem representado em a vida de brian, dos monty python, num sketch onde estão a discutir a frente de libertação da palestina. eu não era filiado – embora para lá caminhasse – mas apoiava e ajudava. e acabei por ser preso, levado na onda. estive preso quase um ano e meio. fui julgado e condenado pelo tribunal plenário, deram como provado que estava filiado naquela organização e era um subversivo.
onde esteve?
em caxias e em peniche. tinha 21 anos e, ao princípio, foi um choque. estive no isolamento 45 dias, só saía meia hora por semana para uma visita da família ou para ser interrogado. depois juntaram-me mais dois detidos, um deles o jornalista eugénio alves, do diário de lisboa. quando comecei a ver outras caras passou a ser mais fácil, uma pessoa entra numa certa rotina e habitua-se. quando recebi a notícia de que iria ser libertado um bocadinho antes do tempo, recebi aquilo com uma certa fleuma, nem fiquei eufórico. é evidente que a privação de liberdade é sempre uma coisa complicada, mas não era tão difícil como no tempo em que o cunhal tinha estado em peniche.
foi durante a prisão que despertou para o jornalismo?
essa prisão foi determinante para a minha vida. se não fosse isso eu hoje seria um engenheiro de minas. e, comparando com a carreira que tive, ser engenheiro de minas teria sido muito menos interessante, embora eu fosse apaixonado por geologia.
o que o fez mudar de ideias?
estar preso levou-me à interrupção dos estudos. quando saí, ainda havia um outro processo contra mim, e estava em risco de ser preso outra vez. para que isso não acontecesse exilei-me, fui para paris a dois meses do 25 de abril, sem fazer ideia do que estava em preparação. isto apesar de ser primo do marques júnior, que fazia parte do movimento dos capitães, e que me disse: ‘não vais ficar por muito tempo, estamos a preparar uma coisa para deitar isto tudo abaixo’. até me perguntou o que achava do mário soares como primeiro-ministro e respondi-lhe: ‘esse tipo? social-democrata? não pode ser!’. na altura ser social-democrata era péssimo para quem, como eu, pertencia à extrema-esquerda. ele disse-me aquilo, mas não acreditei que fosse algo destinado a triunfar. fui para o exílio convencido que ia lá estar algum tempo. estava a tentar arranjar a minha vida em paris quando se deu o 25 de abril.
tinha lá amigos?
inicialmente fui para casa de uns tios nos arredores de paris, mas depressa aluguei umas águas-furtadas no quartier latin. viver sozinho em paris, com 23 anos, acabou por ser muito interessante. fiquei três meses, regressei a 10 de maio.
o que fez nessa altura?
ainda cheguei a matricular-me no técnico para continuar os estudos, mas já tinha 23 anos e achei que devia ter alguma independência económica da família. comecei à procura de emprego e, entretanto, foi anunciado que o novo governo estava a fazer um recrutamento de jovens para estudarem jornalismo, em paris, para uma escola muito reputada, ligada ao le monde. apareceram 400 e tal candidatos para prestar provas na faculdade de letras e fui um dos 30 seleccionados. e voltei para paris para esse curso. tudo o que sei de jornalismo aprendi aí. tínhamos gente de todo o lado a ir falar connosco e fazíamos pequenos estágios, estive no figaro, no nouvelle observateur e na agência france presse.
vem de paris convicto que quer ser jornalista?
sim, o curso abriu-me a paixão pelo jornalismo. ainda por cima foi na altura em que o nixon se despediu por causa do escândalo watergate, achei fascinante investigar e revelar os podres do poder. nunca mais pensei em engenharia de minas.
antes disso, em leiria, onde nasceu e viveu até à universidade, com os seus pais, ambos comerciantes, já tinha muitos hábitos de leitura?
o meu pai tinha uma grande biblioteca, que me influenciou no adquirir do prazer da leitura. o meu pai assinava a grande enciclopédia portuguesa e brasileira, e eu gostava de pegar num volume e ler. li muita coisa, como as obras completas de eça de queirós. além disto, o meu pai era da oposição, tinha sido apoiante do humberto delgado, e também herdei dele esse bichinho. envolvi-me nas lutas estudantis por causa disso.
como foi parar à rtp?
o que me interessava era o jornalismo escrito, não queria saber da rádio nem da televisão para nada. mas, mais uma vez, foi circunstancial. o governo que nos mandou para paris entretanto foi derrubado com o 28 de setembro e o novo governo não sabia o que fazer connosco. sem compromisso, acabaram por nos arranjar estágios em órgãos de comunicação. houve uma reunião para distribuir os lugares, cheguei atrasado e tudo quanto era imprensa já estava ocupado, só havia lugares na rtp. entrei em fevereiro de 75, cumpri dois meses de estágio, mas como ia haver eleições ficámos mais um mês. ao fim desse período escolheram cinco dos dez que estavam na rtp para continuarmos. fui um deles. comecei a fazer trabalhos de investigação jornalística e, no princípio de 81, fui convidado para o expresso, era o marcelo rebelo de sousa director.
finalmente estava onde queria: na imprensa.
foram tempos muito interessantes. quando entrei o jornal tinha uma circulação de 60 mil exemplares e quando saí estava nos 160 mil. foi uma fase muito boa na qual cheguei a fazer parte da direcção. foi muito interessante porque havia autonomia total. mais tarde vim a saber que houve uma altura em que o balsemão, que era primeiro-ministro, chamou o augusto carvalho, que foi quem me chamou para o expresso, porque estava furioso com notícias sobre o que se passava no conselho de ministros. não vou dizer quem era a fonte porque as fontes são confidenciais. mas devo dizer que o marcelo rebelo de sousa estava presente nessa conversa [risos].
a sua saída não foi pacífica…
eu era director-adjunto e o balsemão pediu para publicarmos uma notícia – que, de facto, havia interesse em publicarmos: havia um novo sócio na sic, o joe berardo. isto foi uma notícia na 6.ª feira, o josé antónio saraiva ia sair mais cedo, fez a notícia e disse-me para pôr na primeira ou na última, o critério era meu, mas que não tirasse nada da notícia. e eu, de facto, não tirei. só que, na maquetagem, faltava texto. era preciso acrescentar um parágrafo. fui ao arquivo e pedi a pasta do joe berardo para acrescentar um elemento biográfico. e o que me pareceu mais interessante foi algo que tinha saído no independente: que tinham sido abertos dois processos por evasão fiscal. sempre no conceito de independência, acrescentei isso.
não houve aí alguma ingenuidade?
agora acho que pode ter havido, mas se fosse hoje faria o mesmo. achei que era o mais interessante. e o jornal até já tinha publicado coisas em que o balsemão não ficava propriamente bem – mais uma, menos uma… o balsemão deu-me 24 horas para me demitir ou ser demitido. resolvi demitir-me porque tinha perdido a confiança dele e do josé antónio saraiva. ainda me mantive como redactor principal, mas depois saí para a visão, onde só fiquei dois meses porque, entretanto, o joaquim furtado me convidou para director de programas da rtp, isto em janeiro de 96.
e depois?
saí da rtp, fui fazer livros para o círculo de leitores e fui convidado para a grande reportagem em 2004 pelo henrique granadeiro porque, na altura, todo o grupo pertencia à pt. e, apesar de nunca mo terem dito, também saí por duas coisas complicadas. parece que sou o jornalista que morde a mão que lhe dá de comer, mas uma foi um perfil do joaquim oliveira, a quem a pt vendeu o grupo. achei que era interessante fazer o seu perfil e o jornalista descobriu que ele era filho de pai incógnito (embora tivesse sido perfilhado pelo homem que casou com a mãe) e que a mãe dirigia uma pensão que não tinha uma reputação muito elevada… o jornalista veio perguntar-me o que fazia e eu disse que publicava como se ele não fosse o nosso patrão. assim saiu, ainda que escrito de uma maneira elegante. ainda houve outra coisa que publicámos que não sei se não terá precipitado a minha saída. estávamos em pré-campanha para as presidenciais, o mário soares era candidato, naquela terceira tentativa inglória, e eu escrevi uma série de textos chamados o polvo, como entretanto já tinha saído o livro do rui mateus, que contava coisas terríveis sobre os financiamentos do ps e confirmava aquilo que tinha dito sobre macau. escrevi esses textos dizendo como é que, depois disto tudo, ele tinha o desaforo de se candidatar. provavelmente isto não terá caído muito bem, ainda por cima na altura o josé sócrates era primeiro-ministro. e nós sabemos que os donos dos grupos de comunicação social gostam de manter sempre um bom relacionamento com quem está no poder.
tem saudades do jornalismo?
tenho. é um trabalho fascinante, sobretudo a busca da notícia. mas o jornalismo é uma coisa muito efémera. e, de certa forma, aquilo que faço é uma extensão do jornalismo. e faço documentários, na minha produtora, a nanook, sobre temas biográficos ou que têm a ver com a história recente.
como foi parar aos livros juvenis?
decorre do interesse pela escrita que uma pessoa vai ganhando. a maria inês almeida já estava mais no universo da escrita infanto-juvenil e surgiu a ideia de fazermos uma coisa (colecção duarte e marta) que é lateral ao meu trabalho.
é um escape?
de certa maneira é, mas dá bastante trabalho, mais do que pensava.
os seus filhos opinam?
o mais novo. o mais velho já não quer saber.