O papa-concursos da moda

Na Modatex, a escola de formação profissional que frequenta, Luís Emílio é conhecido como o ‘papa-concursos’. A alcunha revela bem a forma como o estudante de moda olha para as competições destinadas a jovens talentos emergentes. Nos últimos dois anos, já acumulou seis participações, entre nacionais e europeias.

no dia 1, por exemplo, regressou de limerick, na irlanda, para onde viajou com o objectivo de ganhar dez mil euros e um estágio em nova iorque e, no final de outubro, esteve em manchester, reino unido, para receber um prémio na categoria de moda do young creative chevrolet (ycc), concurso criado há sete anos pela marca de automóveis norte-americana.

o jovem de 24 anos resolveu concorrer ao ycc “porque precisava de dinheiro” para terminar o curso. “concorrer ao concurso da chevrolet é algo que está instituído na minha escola para todos os alunos do primeiro nível, mas eu acabei por não participar. este ano, quando comecei a fazer encomendas de tecidos e materiais para concluir os cinco coordenados que desenhei como projecto final, percebi que o dinheiro estava a ficar curto e resolvi participar”. numa primeira fase candidatou-se ao prémio nacional, no valor de 1.200 euros, e ganhou. a verba era suficiente para concluir as cinco criações, mas por ter sido o vencedor português ficou imediatamente habilitado para a competição internacional. aí, luís conquistou o segundo lugar, beneficiando de mais um prémio monetário, desta vez no valor de três mil euros.

tendo como temática o futebol, o jovem português criou um vestido “inspirado nas chuteiras dos jogadores”, em pele branca, com uma gola a reproduzir os atacadores dos ténis. mas a grande curiosidade é que luís nem sequer é adepto da modalidade. “a única atenção que dei ao futebol foi em 2004, na altura do euro. de resto o futebol passa-me completamente ao lado”. e revela que o primeiro jogo a que assistiu ao vivo foi no sábado passado, 26 de outubro, logo em old trafford, o estádio do manchester united. a equipa da casa defrontou o stoke city e venceu a partida por 3-2.

a experiência foi proporcionada pela chevrolet – patrocinador do manchester united a partir da próxima temporada – aos 21 jovens europeus finalistas do ycc deste ano e incluiu, ainda, uma visita guiada ao estádio na companhia de ex-jogador denis irwin, antiga lenda do clube de manchester.

no regresso a portugal, luís admitiu que a viagem a manchester foi “bastante interessante”. apesar de não ter saído de old trafford apaixonado por futebol, o jovem lisboeta reconhece que quantas mais experiências tiver, mais mundo ganha. “em design de moda temos de ser versáteis e, independentemente dos gostos, olhar para as coisas e perceber por onde as podemos agarrar”. no caso do vestido que criou para o ycc, tentou perceber qual a peça que mais lhe agrada no vestuário dos futebolistas e, a partir daí, criar um conceito.

prestes a entrar no mercado de trabalho, o seu objectivo a longo prazo é criar uma marca própria. mas tudo a seu tempo. “é preciso maturidade e, muitas vezes, as coisas não resultam precisamente porque nos precipitamos”. por isso, nos próximos tempos o estudante quer acumular conhecimento a trabalhar no maior número de fábricas e ateliês de designers que conseguir. e também quer ir estudar para fora. influenciado, especialmente, pelo trabalho de criadores como o belga martin margiela e o holandês iris van herpen, luís quer desenvolver o seu lado mais conceptual. “o van herpen, por exemplo, começou a introduzir a impressão 3d e isso é algo que me fascina. em passerelle é o que mais gosto de ver, porque um desfile é um show e há coisas que não são para ser vestidas. são só para ser mostradas, como ideias para se partir para uma colecção”.

se vai conseguir alcançar todos os seus objectivos, só o futuro o dirá. mas luís não revela pressa nenhuma. para já, passo a passo, ou concurso a concurso, tem conseguido afirmar o seu nome como um dos possíveis talentos emergentes da moda nacional. além da iniciativa da chevrolet, em portugal, já ganhou, no âmbito da modalisboa, o nespresso designers contest e, no portugal fashion, o segundo lugar na competição colecção ecofriendly. além disso, no ano passado foi escolhido para representar a modatex num concurso na filândia e noutro na bélgica, o euroskills. em solo belga ganhou o prémio de mérito e excelência ao ficar 0,02 pontos atrás da equipa vencedora. conceptualmente ou não, luís emílio parece ter tudo para vingar nos próximos capítulos da moda nacional.

alexandra.ho@sol.pt