na memória de todos estão bem presentes os últimos pedidos de fiscalização que cavaco silva decidiu dirigir aos juízes do tribunal constitucional. em qualquer deles, cavaco não se limitou a fazer de ‘árbitro’. deixou claro que considerava que os pontos em análise pisavam a linha vermelha do texto fundamental. a tese no governo é esta: a opinião do presidente abriu espaço político para o chumbo das medidas, seja dos subsídios cortados em 2013, seja dos despedimentos no estado. e dificultou o cumprimento do memorando.
seja qual for a opinião de cada um de nós, parece-me correcto dizer que o presidente está hoje perante o maior dilema dos seus mandatos em belém. está num verdadeiro cruzamento de convicções: entre o que ele realmente pensa sobre cada uma das medidas; e a necessidade de portugal evitar um segundo resgate, motivo que o move pelo menos desde um célebre conselho de estado sobre o pós-troika, que convocou na primavera passada.
não vale a pena fingir ingenuidade. o governo conta com a pressão do calendário para convencer todos, juízes e pr incluídos, de que esta é a ‘hora h’: que ou o país está disposto a dar um passo atrás, para ter a perspectiva de dar alguns em frente a médio prazo; ou não está e arrisca-se num caminho que ninguém sabe onde nos pode conduzir.
nas últimas semanas, discretamente, o presidente tem medido o pulso a quem protesta. em apenas um mês, recebeu os reformados da apre!, a ugt, a cgtp e até os representantes do conselho superior de magistratura. percebe-se pouco do que saiu dessas reuniões: a ugt, por exemplo, garantiu ao sair de belém que o presidente apoiará uma subida do salário mínimo, mas uma semana depois já admitia que ela só acontecesse depois da saída da troika.
ao mesmo tempo, saíram outros sinais de fumo de belém, como o da manchete do expresso de há uma semana. “cavaco pede acordo (com o ps) para evitar chumbo do orçamento no tc”, lia-se. ficámos sem perceber se era uma pressão sobre o governo para que cedesse em alguma coisa, ou sobre o ps para que mostrasse alternativas.
mas desta vez o presidente vai ter mesmo de escolher: está a meio do seu segundo mandato, já sem grandes créditos para usar. o risco de o acabar com o país num pântano é real. se isso é suficiente para aceitar o “imposto extraordinário” sobre os pensionistas – como chegou a apresentar o corte na cga há três meses – é um julgamento que só ele poderá fazer, numa primeira instância. na verdade, talvez esse seja o dilema de todo o país: entre a espada e a parede.
e ainda dizem que o presidente não serve para nada.