O homem que dá a cara por Assange

Um dia antes de começar a filmar O Quinto Poder, Benedict Cumberbatch recebeu um email de Julian Assange a pedir-lhe para cancelar o projecto. A missiva, com data de Janeiro, surgiu depois do fundador do WikiLeaks recusar, durante vários meses, receber o actor na embaixada do Equador em Londres, onde permanece em exílio desde Junho…

“não ambiciona simplificar, clarificar ou mostrar a verdade, pelo contrário, pretende abafá-la. irá ressuscitar e amplificar histórias difamatórias que há muito se provou serem falsas […] acredito que seja bem-intencionado, mas compreende certamente porque é uma má ideia para mim encontrar-me consigo. ao fazê-lo, estaria a validar este filme miserável e a legitimar a actuação talentosa, mas devassa, que o guião o forçará a ter”.

a primeira vez que o actor falou no assunto, numa entrevista ao diário britânico the guardian em setembro (antes de assange divulgar o email), confessou que depois de ler a carta sentiu-se inseguro quanto ao papel que iria desempenhar. “claro que ouvi e senti os protestos do homem que iria fingir ser”, disse, revelando, porém, que após alguma reflexão, respondeu no sentido contrário ao pedido do australiano: “o filme irá explorar o que conseguiu atingir, o que fez a atenção do mundo recair sobre si, de uma forma que julgo ser nada menos que positiva”.

benedict cumberbatch, 37 anos, tornou-se mundialmente conhecido há três, quando aceitou dar nova vida a sherlock holmes, na série da bbc sherlock. bastou apenas a exibição de um episódio para o histerismo em torno do actor se instalar no reino unido, ao ponto do próprio vir dizer a público que ficava incomodado com a alcunha que as fãs encontraram para si: ‘cumberbitches’. “‘cumberbabes’ soa-me melhor”, apelou, numa entrevista à bbc. o sucesso imediato com sherlock impulsionou a carreira do actor mas, à revista time, benedict confessou que “ficou assustado” com o sucesso tão repentino da personagem. “estava preocupado em ficar demasiado exposto”.

antes de sherlock, benedict já trabalhava como actor há quase dez anos, mas até 2010 nunca tinha chamado grande atenção. a sua versão do detective brilhante mudou-lhe a vida, mas é a sua interpretação como julian assange que está actualmente nas bocas do mundo. e quando aceitou o desafio, o actor londrino sabia exactamente o impacto que ia ter. na resposta ao email do fundador do wikileaks, benedict admitiu que aceitou fazer o quinto poder (nas salas portuguesas a partir da próxima quinta-feira, dia 14) porque é “um actor vaidoso” e quer poder dizer que lhe deram, um dia, um papel principal.

“[este filme] é um grande passo na minha carreira”, escreveu. e não podia estar mais certo. na semana em que o filme estreou nos estados unidos, benedict teve honras de capa na revista time e, apesar das críticas não serem favoráveis à longa-metragem (o site agregador de críticas rotten tomatoes dá-lhe uma média de 37%), a prestação do actor tem sido unanimemente elogiada.

filho de dois actores, benedict soube cedo o quão incerta é a vida a representar. por isso, durante anos, sonhou com a advocacia para profissão. mas aos 17 anos percebeu que o direito não o iria fazer feliz e, antes de entrar para a universidade, ficou um ano sem estudar. durante esse período deu aulas de inglês num mosteiro tibetano e, quando regressou ao reino unido, resolveu seguir as pisadas dos pais. estudou representação na universidade de manchester e, depois, fez uma pós-graduação em artes na london academy of music and dramatic art.

desde aí entrou em várias minisséries da bbc, tornou-se presença frequente nos palcos de teatro de londres e foi acumulando papéis secundários em cinema – expiação (2007), com keira knightley; duas irmãs, um rei (2008), com natalie portman e scarlett johansson; e a toupeira (2011), com gary oldman e colin firth, são alguns exemplos. mas desde que apresentou a sua versão actualizada do icónico sherlock holmes, nunca mais teve de procurar trabalho.

no espaço de um ano, recebeu convites de realizadores consagrados como peter jackson (de o senhor dos anéis) para a saga o hobbit, j.j. abrams para desempenhar o papel do vilão khan em além da escuridão: star trek e steve mcqueen para doze anos escravo (que deverá chegar a portugal em janeiro).

como se isto não bastasse, até 2015 já está confirmado para mais seis produções de hollywood, além de continuar na bbc com sherlock. a carreira de benedict cumberbatch está, definitivamente, lançada. além do talento na arte de representar, também tem do seu lado a adoração de milhões de mulheres no mundo inteiro. ao ponto de ter sido eleito, em setembro, o homem vivo mais sexy do planeta, numa votação popular promovida pela revista empire. l

alexandra.ho@sol.pt