nestas alturas em que a zona de conforto nos cai e a capacidade de sofrimento é testada ao máximo somos deparados com os nossos verdadeiros limites e o custo/oportunidade da nossa aposta é verdadeiramente avaliado.
confesso que em mais novo a palavra emigrante me sugeria imagens não muito positivas: uma pessoa que misturava o francês com o português, os condutores desajeitados que se intrometiam nas minhas viagens de verão, as músicas populares que retratavam os mesmos ou os padeiros de bigode e farta barriga.
hoje sei que estava errado.
passados uns anos, sou eu que estou nessa pele retratada no filme de sucesso a gaiola dourada e, numa altura conturbada como a que vive moçambique, sou posto à prova quanto à minha verdadeira motivação.
além da força interior, os grupos de pessoas e as pequenas comunidades onde nos passamos a inserir têm um papel decisivo na nossa estabilização emocional e no preencher de certas carências naturais derivadas da distância.
é por isso que ouvir os ‘loucos de lisboa’ na versão dos rio grande ou o ‘aconteceu’ de ana moura num qualquer restaurante, café ou bar nos faz sentir a música como nossa, nos dá um arrepio na espinha.
razão pela qual, quando passo música fora, gosto de terminar o set com um tema que faça a quem está à minha frente lembrar-se do meu país, da nossa língua, da nossa cultura.
as comunidades que se criam, os novos amigos que se adicionam, os estranhos que passam a ser importantes em determinados momentos, os grupos que formamos quando a memória nos afasta da realidade e o nosso corpo foge do quadrado onde nasceu. os que nos acolhem com humildade e amizade. ser emigrante é uma luta ganha à partida porque significa não se conformar com as dificuldades. significa viver na linha da frente! l
sugestões :
l at the club (sean mccabe’s slummin mix) – timmy regisford
l facts (original vibe) – audiowhores