Governo de Jardim acolhe autarcas derrotados

Ex-presidentes de Câmara, ex-vereadores, ex-adjuntos e ex-assessores autárquicos encontraram no Governo Regional um porto de abrigo. Na Madeira, as autárquicas de 29 de Setembro ditaram grandes mudanças. De repente, sete das 11 Câmaras passaram para a oposição.

no day after, o poder social-democrata minimizou os estragos. em 1988, ficou célebre a frase de campanha de jardim ‘ajudei, ajude-me’. agora chegou a vez do poder regional ‘ajudar’ os que serviram nas autarquias até agora ‘laranja’.

o ex-presidente da câmara do funchal, miguel albuquerque, desalinhado com a liderança de jardim, abriu um escritório (é advogado/consultor). o seu vice, pedro calado passou para os quadros de uma empresa do grupo afa, o maior empreiteiro da madeira e, no seu ramo, o maior credor do governo regional.

a vereadora rubina leal é agora adjunta da direcção do estabelecimento prisional do funchal. o ex-vereador do urbanismo, joão rodrigues, quatro da direcção do património, é acolhido na secretaria do ambiente, do ‘delfim’ manuel antónio correia, que já antes ‘deitou a mão’ a bruno pereira, candidato do psd derrotada no funchal.

em santana, teófilo cunha (cds) desalojou do poder rui moisés. este não caiu desamparado. entrou pela porta da secretaria da educação e recursos humanos (assessor do director regional da juventude e desporto, recentemente substituído após uma querela sobre um congresso de desporto). o ex-vice da câmara de santana, joão gabriel, passou a integrar o próprio gabinete do secretário regional.

o regresso de quadros do governo à origem aumentou após 29 de setembro – a faz uma lista extensa. o ex-presidente da câmara de são vicente, jorge romeira, médico de profissão, integra agora a unidade da dor do hospital do funchal.

valter correia, ex-presidente da câmara do porto moniz voltou à sua condição de professor. antónio olim, ex-presidente de machico, regressou à direcção regional de estradas, agora com outra designação.

um turbilhão no psd/m

dentro do psd-madeira está aberta a ‘caça às bruxas’. há processos de expulsão em curso, envolvendo, por exemplo, humberto vasconcelos, antigo presidente de são vicente, simplício pestana, que foi delegado regional da anafre e presidente da junta do imaculado, no funchal. fala-se da expulsão de mais de 40 militantes mas, segundo o insuspeito jornal da madeira, poderão chegar aos 200.

no intervalo de várias viagens a bruxelas, jardim usou as armas tradicionais: a táctica do inimigo externo, o desabafo da ingratidão, a ameaça de expulsões, a guerra aos municípios que mudaram – da retirada de competências (jardim público de santa luzia), à cobrança coerciva de dívidas da empresa ‘electricidade da madeira’.

dentro do psd-m, briga-se em surdina. prepara-se o assalto à liderança e já há três candidatos assumidos: miguel albuquerque, manuel antónio correia e sérgio marques. jaime ramos continua brigado com miguel de sousa; o deputado regional e ex-líder da jsd-m, josé pedro pereira passou a independente numa estratégia insondável.

as eleições directas para a escolha do novo líder estão marcadas para 19 de dezembro de 2014. jardim anunciou que sai de cena.

nos últimos 6 anos, o psd-m perdeu perto de 40 mil votos, 22 freguesias e 7 autarquias. no funchal, houve mudança radical. paulo cafôfo foi o protagonista mas a vida não está a ser fácil. a cdu não quis o ‘casamento’. o cds também não. a governação far-se-á de acordos pontuais. o último dissabor foi esta semana, com a oposição a fazer aprovar na assembleia municipal uma proposta (redução de 5 para 4% do irs) que retira mais de 1 milhão de receitas anuais à autarquia. a derrama sobre o lucro das empresas é a alternativa.

emanuel.silva@sol.pt