MexeFest: Woodkid e John Grant provocam enchente

Woodkid, o projecto do francês, Yoann Lemoine, foi o nome que fechou o primeiro dia do Vodafone MexeFest no Coliseu dos Recreios e foi o concerto mais procurado por todas as pessoas que se deslocaram ontem até à Avenida da Liberdade e arredores. O francês trazia na bagagem o disco de estreia, “The Golden Age”,…

completamente rendidos ao músico, que se fez acompanhar por três percussionistas e uma secção de sopros, o público lisboeta delirou com temas como ‘run boy run’ (cantado em uníssono), ‘boat song’, ‘the golden age’ ou, o inevitável, ‘i love you’ (com lemoine a dizer que amava todos os rapazes na sala). visualmente imponente, com os vários jogos de luz caleidoscópios e as projecções numa grande tela a imporem dramatismo e teatralidade ao espectáculo, a verdade é que ao vivo as canções do francês soam tão vazias e desinteressantes como em disco.

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já john grant, outro ‘vencedor’ da noite – com a sala manoel de oliveira, do cinema são jorge, completamente esgotada -, comprovou a beleza de “pale green ghosts”, o segundo disco a solo do músico norte-americano editado este ano. apostando num alinhamento que combinou electrónicas com temas acústicas, grant agarrou a plateia, que nem se queixou do espectáculo ser tão curto (de uma hora só). ficou a promessa de um regresso em breve, especialmente porque lisboa tem uma audiência “muito bonita”, “especialmente os homens”, a quem presta mais atenção.

márcia, que actuou na mesma sala que grant horas antes, também teve uma recepção à altura, sendo evidente que a cantora está a tornar-se uma das mais queridas dos portugueses. com a sala do são jorge praticamente cheia, márcia abriu o concerto com ‘cabra-cega’, do primeiro disco “dá”, mas foi quando chamou os dois convidados especiais que a sala mais aplaudiu. com samuel úria exibiu ‘menina’ (de “casulo”, lançado este ano) e ‘eu seguro’ (de “o grande medo do pequeno mundo”, também deste ano, mas de úria) num registo íntimo que revela sempre a enorme cumplicidade que existe entre os dois músicos. depois entrou antónio zambujo, com o fadista “a fazer de jp simões” em ‘a pele que há em mim’.

depois de márcia, a caravana seguiu para o concerto das savages, que curiosamente só encheu meio coliseu. vestidas integralmente de preto, o quarteto londrino, liderado pela francesa jehnny beth, desfilou as canções de “silence yourself”, o disco de estreia que lhes valeu tornarem-se um dos hypes de 2013. ainda assim, apesar da prestação intensa e de temas fortes como ‘she will’, ‘i need something new’ e ‘hit me’, a plateia lisboeta demonstrou uma apatia imprópria para uma música que pede energia e pouca contenção, ou não fosse o som das savages um revivalismo nostálgico pós-punk, ao jeito de siouxsie sioux e joy division.

a pouca vibração da audiência de savages fez-nos ir espreitar a actuação da xungaria no céu, no palácio da independência, a par do coliseu outro dos novos espaços da edição deste ano. ainda chegámos a tempo de ouvir, entre outros, manuel fúria, martim, samuel úria, nick nicotine, jorge cruz e joão coração a entoar “o futuro do chão não passa” e de ver tiago cavaco (ou gillul) subir uma coluna e atirar-se para a (reduzida mas entusiástica) plateia que marcou presença.

antes da xungaria no céu, o palácio da independência recebeu a estreia ao vivo de d’alva, formação liderada por ben monteiro e alex d’alva teixeira. saímos com a certeza de que, tal como obélix, alex caiu no caldeirão em criança. um caldeirão de culturas, que o dotou de uma sensibilidade única para decifrar ao pormenor a imensa pluralidade musical que o rodeia. nascido em luanda, filho de mãe brasileira e pai são-tomense, as canções d’alva são um melting pot imenso, que tanto viajam por ritmos brasileiros e africanos, como pelo hip hop e r&b, ou por electrónicas minimalistas ou batidas mais roqueiras. o disco de estreia será editado em 2014 e vale a pena estar atento.

alexandra.ho@sol.pt
raquel.carrilho@sol.pt