Polícias sem ordem

Os militaristas mais convictos gostam de contar uma história que ilustra na perfeição o espírito militar. Consta então que um dia um sentinela de serviço a um quartel ouviu o barulho de um vulto ao longe e que o mandou identificar-se. Como a personagem em questão não se identificou convenientemente, o soldado acabou por o…

quando finalmente o ‘vulto’ se identificou, o pobre sentinela ‘morreu’ de medo. afinal, tinha acabado de ‘agredir’ o comandante do quartel. mas o resultado final acabou num louvor para o eficiente sentinela, já que tinha cumprido a sua missão na perfeição.

quem assistiu na semana passada à manifestação dos polícias, nas escadarias da assembleia da república, percebeu perfeitamente que os agentes de serviço fizeram tudo menos impedir os excessos dos seus colegas contestatários. o que levanta questões muito pertinentes para o futuro. numa futura manifestação de qualquer partido ou grupo de cidadãos em que os polícias se sintam identificados com a causa, deixarão os ‘contestatários’ subir e invadir a assembleia da república? se um grupo de anarquistas quiser, por exemplo, apedrejar bancos ou ministérios terão também a complacência da polícia?

outro dado curioso é que, a partir de agora, todas as intervenções das polícias destacadas para manifestações serão comparadas à da semana passada. como foi possível que aqueles que devem defender uma imagem de ordem e respeito se tivessem comportado como verdadeiros arruaceiros? haverá quem pense que têm todo o direito de se manifestarem e de ultrapassarem cordões policiais formados por colegas. foi no final da década de 80 do século passado que ficaram célebres os famosos ‘secos’ e ‘molhados’. de um lado, os polícias manifestantes; do outro, os agentes que carregaram com bastonadas e jactos de água os colegas que protestavam em frente ao ministério da administração interna.

o espectáculo não foi bonito de se ver, mas o estado português mostrava que a segurança, em última instância, seria sempre defendida. o que se passou na semana passada foi precisamente o contrário. agentes que pactuaram com agentes e que os deixaram quase entrar na assembleia para intimidarem governantes. é este o sinal máximo da democracia? não me parece. na vida, quase tudo tem um limite…

vitor.rainho@sol.pt