o subtítulo, teoria, fragmentos e imagens, caracteriza a reelaboração que o autor fez da sua tese de doutoramento, juntando-lhe itálicos e notas de rodapé ou à margem (todas narrativas paralelas) e uma interpretação em imagens assinada pelo colectivo de artistas plásticos os espacialistas. em nota final, o autor adverte: podemos ler estas 500 páginas como nos apetecer. em ‘síntese’, dá-nos um guia para navegarmos pelo menos à bolina do programa.
este é, de facto, o seu livro mais exigente, mas afinal mais generoso: rigoroso na bagagem filosófica e epistemológica, quase impertinente nas derivações; magnânimo porque escancarado à abordagem livre e à imaginação do leitor. mais uma vez, m. tavares mostra uma sensibilidade única para a possível universalidade contemporânea de um texto.
dividido em quatro partes (‘o corpo no método’, ‘o corpo no mundo’, ‘o corpo no corpo’ e ‘o corpo na imaginação’), atlas contém um denso, mas lúdico, elogio à escrita como festa do pensamento e da acção, da observação e do questionamento: um elogio ao erro. o jogo nasce do paradoxo das frases-ideias, em simultâneo exactas e ambíguas. o fragmento é usado como “clínica de nascimentos”, de novas perguntas, torções e categorizações. interessa “pensar por hipóteses”, a partir de citações, histórias, reinterpretações e imagens, e “nunca concluir”. neste livro, tudo pode e é centro (wittgenstein tutela-o). como o autor pretende, nada é ‘ou, ou’; tudo é isto ‘e’ mais isto. nada se substitui, tudo se acumula e multiplica, significando sempre um início.
quem gosta de pensar, há-de saboreá-lo com prazer.