Cavaco explica voto contra a libertação de Mandela

Portugal votou contra uma resolução da ONU que exigia a libertação de Nelson Mandela, em 1987, por considerar que o texto continha “um incentivo à violência” por apelar à resistência armada. Isto mesmo consta da declaração de voto que Portugal entregou na altura e que o Palácio de Belém, hoje ocupado pelo primeiro-ministro à data de…

hoje, no parlamento, o deputado do pcp, antónio filipe, lembrou a votação na onu nos anos 80, em que apenas os eua, a inglaterra e portugal votaram contra a resolução que defendia a libertação de mandela, que morreu ontem aos 95 anos de idade.

a declaração de voto explica por que razão portugal não podia votar ao lado da esmagadora maioria dos membros das nações unidas (129). sublinhando que o então governo português “condena o sistema de apartheid”, considerado uma “aberrante sociedade”, o texto explica que portugal “tem reservas em relação a alguns aspectos” da resolução. considerava que o poderia ser um “incentivo à violência”, preferindo o governo português “encorajar o diálogo”.

o governo português na altura votou contra a resolução por considerar que o ponto 2 apelava à violência. este dizia: “reafirmar a legitimidade da luta do povo da áfrica do sul e o seu direito a escolher os meios necessários, incluindo a resistência armada, para alcançar a erradicação do apartheid”.

nesse dia, porém, portugal votou a favor de outra resolução que pedia a libertação de nelson mandela, intitulada “acção internacional concertada pela eliminação do ‘apartheid’”, que, no seu ponto 4, pedia às autoridades sul-africanas a “libertação imediata e incondicional de nelson mandela e de todos os outros presos políticos”. esta resolução teve 149 votos favoráveis, 2 contra (estados unidos e reino unido) e 4 abstenções.

ontem, à noite na tvi24, a eurodeputada do ps e diplomata, ana gomes, lembrou outra votação polémica de portugal nas nações unidas sobre o regime do apartheid da áfrica do sul.

“lembro-me de um episódio em 1989, quando tínhamos uma resolução sobre as crianças vítimas do apartheid apresentada pelo grupo africano. vergonhosamente, tivemos instruções para votar com os estados unidos e a grã-bretanha, numa posição contrária a essa resolução”, disse. “foi uma vergonha e tentámos lutar contra isso na delegação. mas havia muita gente em portugal que achava que os nossos interesses estavam do lado do apartheid”, acrescentou.

[actualizada às 16h56]

helena.pereira@sol.pt