Pires de Lima deixa cair moção ao CDS

António Pires de Lima, agora ministro da Economia, desistiu de apresentar ao Congresso de Janeiro do CDS uma moção de estratégia, deixando cair o texto que apresentara no Verão.

quando a reunião do partido esteve marcado para julho, e antes de ser ministro, pires de lima entregou um documento chamado “dar prioridade à economia”, em que defendia o aumento do salário mínimo para 500 euros, o fim progressivo dos cortes nos salários de funcionários públicos e pensionistas, entre outros temas. o texto conjunto tinha ainda a assinatura de dirigentes como adolfo mesquita nunes (secretário de estado do turismo), leonardo mathias (agora secretário de estado da economia), joão almeida (porta-voz do cds) ou cecília meireles (deputada).

“já não é necessário. a economia já está a ‘retomar’“, justifica ao sol um dos autores da moção, acrescentando que aquele texto “está bastante actual”, nomeadamente, sobre irc, salário mínimo ou a calendarização da eliminação da sobretaxa de irs. apenas a não descida do iva para 2014 saiu fora do guião, acrescentou.

o congresso acabou por ser cancelado devido à crise política provocada pelas demissões de vítor gaspar e paulo portas. chegaram a ser entregues quatro moções nessa altura.

para além desta sobre economia, os eurodeputados nuno melo e diogo feio entregaram uma sobre a europa. mas também aí as circunstâncias mudaram: se o cds se preparava para ir sozinho às europeias, acabou comprometido com uma coligação.

ao sol, feio explica ainda não ter conversado com o colega de bancada. “vamos avaliar o que sucedeu desde esse momento”, explicou, acrescentando que, desde essa altura, por exemplo, “portugal já defendeu um objectivo diferente para o défice de 2014”.

a excepção à regra é o movimento alternativa e responsabilidade, grupo de críticos da liderança de paulo portas: vai reapresentar a sua moção com alguns “acrescentos”. “cds mais à frente”, o texto de filipe anacoreta correia, entre outros, critica a liderança de paulo portas, defende mudanças no irs e irc e uma reforma do sistema eleitoral.

listas alternativas

mas a mudança mais significativa do congresso que esteve marcado em julho para este é que o movimento alternativa e responsabilidade decidiu apresentar listas próprias para delegados ao congresso em lisboa e no porto. filipe anacoreta correia já tinha admitido no verão que pudesse surgir um candidato alternativo a paulo portas – o congresso é electivo e as candidaturas podem ser apresentadas na reunião.

a eleição de delegados é amanhã e anacoreta correia, que encabeça a lista de lisboa, assume que “quer medir o pulso e o grau de contentamento com a política seguida pela direcção”.

o único candidato declarado à liderança, paulo portas, terá, por seu lado, que reescrever o seu texto. a moção “responsabilidade e identidade” defendia um desagravamento fiscal do irc e irs e reconhecia que o cds tinha sido “obrigado a governar contra as suas convicções” nas medidas do orçamento do estado para 2013, o que “causou justificada decepção no eleitorado da maioria”. o mesmo não poderá dizer do último processo do orçamento, este ano.

se há alguns meses a convicção entre membros da direcção do cds era a de que portas iria candidatar-se à liderança do partido pela última vez, agora não há essa certeza. a moção de portas não vai falar sobre a estratégia das próximas eleições legislativas, embora aquelas caiam no horizonte temporal do congresso que é de dois anos.

“não faz sentido falar nisso. ainda é muito cedo”, afirmou ao sol fonte centrista. se o assunto não for discutido em congresso, eventuais coligações à esquerda ficam para um conselho nacional mais próximo do acto eleitoral.

helena.pereira@sol.pt