quando a reunião do partido esteve marcado para julho, e antes de ser ministro, pires de lima entregou um documento chamado “dar prioridade à economia”, em que defendia o aumento do salário mínimo para 500 euros, o fim progressivo dos cortes nos salários de funcionários públicos e pensionistas, entre outros temas. o texto conjunto tinha ainda a assinatura de dirigentes como adolfo mesquita nunes (secretário de estado do turismo), leonardo mathias (agora secretário de estado da economia), joão almeida (porta-voz do cds) ou cecília meireles (deputada).
“já não é necessário. a economia já está a ‘retomar’“, justifica ao sol um dos autores da moção, acrescentando que aquele texto “está bastante actual”, nomeadamente, sobre irc, salário mínimo ou a calendarização da eliminação da sobretaxa de irs. apenas a não descida do iva para 2014 saiu fora do guião, acrescentou.
o congresso acabou por ser cancelado devido à crise política provocada pelas demissões de vítor gaspar e paulo portas. chegaram a ser entregues quatro moções nessa altura.
para além desta sobre economia, os eurodeputados nuno melo e diogo feio entregaram uma sobre a europa. mas também aí as circunstâncias mudaram: se o cds se preparava para ir sozinho às europeias, acabou comprometido com uma coligação.
ao sol, feio explica ainda não ter conversado com o colega de bancada. “vamos avaliar o que sucedeu desde esse momento”, explicou, acrescentando que, desde essa altura, por exemplo, “portugal já defendeu um objectivo diferente para o défice de 2014”.
a excepção à regra é o movimento alternativa e responsabilidade, grupo de críticos da liderança de paulo portas: vai reapresentar a sua moção com alguns “acrescentos”. “cds mais à frente”, o texto de filipe anacoreta correia, entre outros, critica a liderança de paulo portas, defende mudanças no irs e irc e uma reforma do sistema eleitoral.
listas alternativas
mas a mudança mais significativa do congresso que esteve marcado em julho para este é que o movimento alternativa e responsabilidade decidiu apresentar listas próprias para delegados ao congresso em lisboa e no porto. filipe anacoreta correia já tinha admitido no verão que pudesse surgir um candidato alternativo a paulo portas – o congresso é electivo e as candidaturas podem ser apresentadas na reunião.
a eleição de delegados é amanhã e anacoreta correia, que encabeça a lista de lisboa, assume que “quer medir o pulso e o grau de contentamento com a política seguida pela direcção”.
o único candidato declarado à liderança, paulo portas, terá, por seu lado, que reescrever o seu texto. a moção “responsabilidade e identidade” defendia um desagravamento fiscal do irc e irs e reconhecia que o cds tinha sido “obrigado a governar contra as suas convicções” nas medidas do orçamento do estado para 2013, o que “causou justificada decepção no eleitorado da maioria”. o mesmo não poderá dizer do último processo do orçamento, este ano.
se há alguns meses a convicção entre membros da direcção do cds era a de que portas iria candidatar-se à liderança do partido pela última vez, agora não há essa certeza. a moção de portas não vai falar sobre a estratégia das próximas eleições legislativas, embora aquelas caiam no horizonte temporal do congresso que é de dois anos.
“não faz sentido falar nisso. ainda é muito cedo”, afirmou ao sol fonte centrista. se o assunto não for discutido em congresso, eventuais coligações à esquerda ficam para um conselho nacional mais próximo do acto eleitoral.
helena.pereira@sol.pt