Lisboa, a vê-los passar

Hoje, talvez fôssemos bem mais cultos, mais ricos e mais cosmopolitas, se não os tivéssemos apenas visto passar. Fugitivos políticos, artistas refugiados, refugiados célebres ou refugiados comuns. Entre eles, a nata cultural e financeira da Europa; Peggy Guggenheim, Max Ernst, Béla Bartók, Marc Chagall, Alfred Döblin, Thomas Mann ou Hans Sahl, por exemplo. Durante a…

depois de se ter concentrado no período da segunda guerra (lisboa: a guerra nas sombras da cidade luz, 1939-1945, de 2011), lochery aborda agora a ditadura portuguesa em lisboa: a cidade vista de fora, 1933-1974. especialista em política e história recentes de israel, do médio oriente e do mediterrâneo, lochery trabalhou nos anos 80 em portugal, o que lhe permitiu dominar a língua portuguesa e, depois, o acesso a diversificadas fontes documentais – uma valia deste livro.

aqui relaciona-se o posicionamento diplomático de portugal (de “gargalo da europa” até ao isolamento radical dos anos 60) com o permanente apelo de lisboa como pólo de turismo abastado e da alta sociedade. em visitas breves ou estadias mais prolongadas, desfilam líderes políticos, espiões, estrelas do espectáculo, jogadores de futebol ou membros da realeza europeia (com ou sem coroa). o registo dos movimentos e impressões destes estrangeiros é bastante restritivo, salientando apenas o muito pouco que ficou de tantos que cá estiveram e daqui partiram. ainda assim, é importante fazer-se esta história de como salazar, tacanho mas artificioso, manteve o país cerrado na palma da mão, enquanto deploravelmente o condenava a ser, como a costa do estoril, “um dos últimos bastiões do conservadorismo social”.

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