Diogo Feio: ‘Entrosamento de Portas e Maria Luís tem sido razoável’

A crise política já passou e está claro que Portas “deve pertencer ao cimento da coligação”, diz o eurodeputado do CDS Diogo Feio. A crítica maior vai para o PS, que oscila entre ser radical e fazer oposição via TC.

portugal precisa de um programa cautelar ou pode ir sozinho aos mercados? portugal afinal não é celta, como paulo portas queria.

portugal está claramente no caminho de ser celta. está a cumprir o seu programa de ajustamento. cada vez se torna mais longínqua uma lógica de segundo resgate. mais do que discussões teóricas sobre o programa cautelar, o empenho de portugal tem de ser cumprir.

não quer falar do cautelar.

a sua altura se verá. a existência de um cautelar não depende só de portugal, depende de uma decisão europeia.

a irlanda receava que os parceiros europeus não dessem aval ao seu programa cautelar. tem receio disso no caso português?

a irlanda deu um contributo muito grande ao falar nisto, para que a ue possa compreender a situação de estados como a irlanda ou portugal. essa é uma linha que portugal pode utilizar neste sentido: vai com um conjunto muito grande de avaliações positivas. chegando ao final e cumprindo, tem uma possibilidade única de ser um dos aceleradores de um conjunto de mudanças que é necessário fazer na ue. depois da enorme desilusão com os arautos que a esquerda anunciava… vinha aí a grande mudança com o sr. hollande, só faltava dizerem que ia andar sobre a água, e as alterações do spd transformaram-se em nada… são estados como portugal – com todo o património de cumprimento que tiveram – que podem fazer um discurso europeu que leve às mudanças necessárias.

a troca de dívida desta semana não resolveu ainda os problemas de financiamento para 2014. acha que portugal vai conseguir financiar-se nos mercados a 6%?

os juros têm descido nos últimos dias. investidores estrangeiros novos quiseram participar nesta operação. portugal está a começar uma outra fase económica e financeira. isto era totalmente impossível há um ano. há sinais positivos na descida do desemprego, na balança comercial e nas exportações. e, em portugal, o sector privado ajustou de uma forma exemplar, mesmo para o próprio estado.

a demissão de portas em julho não prejudicou mais os juros e a imagem de portugal do que os chumbos do tc?

o que se passou em julho já foi objecto de muita análise. é cada vez mais claro que o líder do cds pertence e deve pertencer ao cimento desta coligação, porque o objectivo que temos pela frente é muito importante. eu, que sempre defendi a estabilidade e existindo instabilidade fiz as críticas que entendi fazer na altura, hoje também devo sublinhar o elemento fundamental de estabilidade que o cds e o seu presidente têm dado a esta coligação. como é que se pode ter uma visão crítica quando se fez uma troca de dívida positiva, quando a economia está a reagir de uma maneira que muitos não acreditavam que fosse possível? isto tem levado a que alguma oposição tenha radicalizado o discurso e incentivado uma certa agitação social. mas quero salientar o comportamento responsável da ugt, que tem efeito nos próprios mercados, na forma como a situação portuguesa é vista.

vimos nas últimas semanas uma invasão de ministérios, insultos no parlamento ao governo e um desafio à insurgência de mário soares.

esses exemplos correspondem a uma coreografia que resvala um pouco para o folclore e que é demonstrativa de que há uma separação entre esse género de manifestação e os sinais positivos da economia que referi há pouco. essa separação não é por acaso.

voltando a portas, o episódio do irrevogável está ultrapassado?

é natural que em tudo se dê tempo ao tempo. as pessoas sabem que o cds está totalmente empenhado no crescimento da economia, na protecção social e numa situação de maior bem-estar social.

e quanto a maria luís albuquerque? o tempo deu razão ao cds?

não vou pôr a questão nesses termos. não vou estar a falar sobre razões e determinadas considerações que não tenho por certas. tenho uma perspectiva positiva sobre a capacidade de explicação das medidas pela ministra das finanças em relação a situações passadas. houve claramente uma melhoria nesse plano. tenho uma expectativa positiva sobre a sua capacidade de levar em frente a tarefa de terminarmos o nosso programa de ajustamento. tem existido um entrosamento razoável nas conversas com a troika entre a ministra das finanças e o vice-primeiro-ministro, que era algo que se punha em causa.

se o tc chumbar o diploma das pensões, deve ser aumentado o iva ou portugal deve insistir na flexibilização do défice?

não entro neste concurso de constitucionalistas, que agora quase aparecem das pedras da calçada. tenho a certeza de que os juízes do tc estão incomodados com certas reacções e por terem sido empurrados pela oposição para o centro da discussão política. há um centralismo de discussão política à volta do tc e a política não se deve fazer pelo tc. temos na oposição uma ala mais radical, feita pelo pcp e algumas franjas do ps, e temos outra parte da oposição completamente paralisada por uma obsessão em relação ao tc, o que também não é positivo.

o aumento do iva deve ser uma fronteira intransponível?

não coloco o cenário, porque não estou a fazer palpites sobre decisões do tc. este governo está empenhado em cumprir o programa de ajustamento, fazer a reforma do estado e apostar na economia e na protecção social.

era melhor o pr pedir a fiscalização preventiva do oe?

nunca foi pedida em portugal. será que o mais razoável, estando o país a ganhar a confiança dos mercados e a economia a animar, é ter um orçamento em duodécimos?

gostava de continuar no pe?

não coloco cenários. não acho que seja correcto fazê-lo.

em listas conjuntas, o cds arrisca-se a não eleger o seu segundo eurodeputado.

nunca fiz política com falta de confiança. já viu o que falta pela frente? escolha dos lugares, dos candidatos, campanha eleitoral e eleições? são muitos elementos para se fazerem previsões.

quando serão escolhidos os candidatos?

não conheço o calendário.

paulo rangel será o cabeça-de-lista natural?

não posso responder. não sou o próprio rangel, não sei da sua disponibilidade, não sou do psd, não sou eu quem convida o cabeça-de-lista.

portas vai candidatar-se no congresso de janeiro do cds. deseja que esta não seja a última vez?

desejo que o líder do partido continue a sê-lo por o mais tempo que seja possível. não vejo nenhuma razão para estar a determinar que esta seja a última vez. confio muito na sua liderança. as bases do cds estão confortáveis com a sua liderança.

este congresso já discutirá as próximas legislativas? se haverá ad?

com uma realidade política que se vai demonstrando tão volátil, acho que a cautela é sempre boa conselheira. está acordada uma coligação para as próximas europeias. a minha preocupação é que exista uma coesão grande e capacidade de resistência.

o ps reclama que deve indicar o próximo comissário europeu. tem razão?

a escolha de comissários só sucede depois do verão. não é uma discussão razoável neste momento. a tradição é diz que são os governos a escolher os comissários. e também não se pode comparar a um presidente de comissão com o indicar de um membro para o colégio de comissários.

helena.pereira@sol.pt