“no actual panorama, onde nenhum estado-membro da ue está isento da crise, a grécia e portugal têm o triste privilégio de experimentar a dimensão total da crise. mas outros países também estão a tentar pôr em ordem as suas finanças, em toda a ue existe um clima de precaução, de poupança”, referiu panos kalogeropoulos, 57 anos, no decurso de uma entrevista à lua que decorreu na embaixada grega.
o diplomata helénico, que iniciou funções em lisboa há quatro meses, considera que os dois países atravessam um “processo similar”, numa referência aos planos de resgate negociados com os credores internacionais (comissão europeia, banco central europeu e fundo monetário internacional), apesar de sublinhar as diferenças na aplicação dos programas.
“portugal começou de uma forma mais suave, o problema do défice não era tão sério como na grécia, a dívida de portugal é menor, e assim parece-me que o programa de ajustamento é mais suave”, admitiu o diplomática helénico.
a grécia já foi sujeita desde 2010 a dois programas de ajustamento negociados com a ‘troika’ de credores e que atingem cerca de 250 mil milhões de euros, um empréstimo que teve como contrapartida a aplicação de draconianas medidas de austeridade.
na grécia, em particular nos dois primeiros anos de intervenção externa, a contestação social foi intensa, e o cenário político registou uma alteração radical.
“quando as sociedades estão habituadas a um certo nível de bem-estar e têm de sofrer cortes e mudanças no seu quotidiano, existem reacções”, reconhece panos kalogeropoulos, que volta a insistir num termo de comparação entre os dois países ao sublinhar que no caso português as “reacções” aos planos de austeridade também têm sido “mais suaves”, dos partidos da oposição às centrais sindicais.
a evolução da situação política no seu país, com um reforço das correntes mais radicais de esquerda e de direita e a erosão dos dois partidos da coligação (nova democracia e pasok) impelem o representante grego a considerar que a coesão social constitui hoje “o maior desafio” para a generalidade dos países, incluindo portugal.
“as nossas sociedades baseiam-se em princípios e características comuns e caso se verifique uma erosão da coesão social tudo pode acontecer, a começar pelo radicalismo político e situações que queremos evitar. lutar pelo crescimento e a criação de emprego é de importância primordial”.
nesta perspectiva, o diplomata opta por salientar os progressos que diz terem sido protagonizados pelos governos de lisboa e atenas.
“todas as avaliações da ‘troika’ em portugal foram positivas. nos meus contactos com responsáveis pelas finanças públicas em portugal… foram-me dadas garantias que o programa está no bom caminho. decerto que existem algumas decisões que se aguardam até meados de dezembro em relação à aplicação deste orçamento, e quando a sua aplicação começar de forma efectiva em janeiro essas decisões vão surgir”, vaticinou.
o diplomata salientou ainda os “bons resultados” de portugal na “economia real”, das exportações à inovação, e desejou que “este país amigo” conclua nos prazos o programa de ajustamento “e nas melhores condições”.
uma abordagem semelhante face ao seu país, e na sequência do encontro em 4 de dezembro entre o primeiro-ministro grego antonis samaras com o presidente da comissão europeia, durão barroso, e onde o crescimento e emprego foram definidas como as “prioridades comuns” para a presidência grega da ue no primeiro semestre de 2014.
panos kalogeropoulos admite “perspectivas animadoras” para 2014, caso se atinja o excedente primário equilibrado [o saldo orçamental sem contar com a dívida] até ao final deste ano, mas reconhece que ainda existe “muito trabalho árduo” para fazer.
“os milagres não acontecem, sobretudo quando nos confrontamos com números. mas se perdermos a esperança e deixarmos de ser perseverantes nos nossos esforços, facilmente retrocederemos”.