Panda Bear: ‘Os One Direction interessam-me’

O músico americano vai estar hoje no Lux, numa noite programada por si. A gravar o próximo disco, o membro dos Animal Collective fala sobre o futuro da música e por que está intrigado com a boys band britânica.

no ano passado foi convidado de nicolas jaar na noite green ray que ele programou no lux. agora é o curador. gosta dessa função?

gosto bastante, é quase como pensar no espectáculo perfeito. tenho alguma experiência porque a banda onde toco, os animal collective, programou uma das festas all tomorrow’s party e foi muito mais desafiante. eram vários dias, com muitas coisas a acontecer. desta vez não foi assim tão difícil. pensei imediatamente em alguns nomes que queria ter e, depois, desenhei o resto em torno disso.

como vai ser a sua actuação?

não vai ser um dj set, mas será tudo electrónico e só vou tocar canções novas. tenho feito isto nos shows que acontecem só uma vez e é o que faz mais sentido. introduzir canções antigas quando estou a apresentar as mais recentes não é algo que me entusiasme, mas como gosto de incluir toda a gente faço isso nas digressões. ao longo destes dez anos de digressões apercebo-me de que há muita gente que vai aos concertos só para ouvir uma canção.

escolheu amigos ou optou por artistas que se enquadram no lux?

um misto das duas coisas. a maior parte são meus amigos, ou pessoas que conheço pessoalmente, e actuam quase todos a solo como eu, dentro de um espectro musical semelhante. fiz isto também porque acho que aquela sala está desenhada para música que não depende do microfone.

há dois portugueses. porquê estes?

num alinhamento essencialmente de electrónica, acho que os gala drop vão trazer algo diferente para a mesa. já em niagara gosto da forma como combinam muitos elementos sem deixarem de soar a uma coisa caseira. a música que fazem não é apenas computadorizada, sente-se que passaram por ali mãos humanas e isso é algo que me agrada bastante.

quando ouve música está sempre a tentar decifrar como foi feita?

sim. acho que para um músico é impossível não pensar como foi feito ou que equipamento foi usado. é muito difícil ser completamente objectivo depois de termos passado pelo processo de fazer música. o que traz coisas boas e más. é como quando somos crianças e ainda não sabemos ler. o mundo parece-nos de uma forma, mas assim que aprendemos a decifrar as mensagens todas nunca mais conseguimos recuar.

vive em portugal há oito anos. está a par da música que se faz cá?

sei de algumas coisas através da filho único, até porque agora também têm a editora príncipe, mas não conheço tanto quanto gostaria. o que conheço é mais de electrónica, talvez porque tenho mais afinidade com esse tipo de música.

a música de hoje parece convergir cada vez mais para a electrónica…

não sei se é bem assim. sinto é que, cada vez mais, todos os géneros estão a tornar-se numa coisa só. estava a ler um artigo sobre os one direction, num site que visito todos os dias, grantland, e dizia que o último disco deles não é o que estamos à espera. fiquei intrigado, porque sei muito bem o que esperar de um disco dos one direction. acabei por achar o texto muito oportuno. basicamente o autor do artigo acredita que, daqui a dez anos, deixarão de existir géneros e a música popular vai tornar-se um amontoado de muitas peças. um saco enorme sem fundo, que mistura várias coisas.

concorda com essa ideia?

acho que isso já está a acontecer. nos últimos dez anos perdeu-se aquela coisa de se gostar só de um género musical. nos anos 80 e, especialmente, no início dos 90, o gosto musical era uma forma de nos definirmos e, por isso, apegávamo-nos a um tipo específico de música ou a uma banda. mas a internet espetou-nos tanta informação na cara que é difícil termos só uma coisa com que nos identificar. nesse sentido, interessa-me ouvir os one direction e perceber como uma boys band incorpora folk ou rock na sua música.

mesmo com essa explicação, é surpreendente ouvi-lo dizer isso…

fico sempre intrigado com coisas que milhões e milhões e milhões de pessoas gostam. questiono-me sempre sobre o que têm de tão especial para atrair tanta gente. qual é o poder dessa música?

este ano participou no aclamado ‘random access memories’, dos daft punk. como aconteceu?

sou um grande fã, desde a adolescência, e gosto da forma como conseguem ser apelativos a tantos níveis, algo que acho impossível fazer. quando decidimos, nos animal collective, fazer remixes de algumas canções perguntei-lhes se queriam, mas os daft punk disseram que já não fazem isso. mesmo assim, quando fiz um álbum a solo voltei a perguntar e tive a mesma resposta. mas um dia o thomas [bangalter, uma das metades dos daft punk] veio ver-me a paris e começámos a trocar emails. um ano depois, chamaram-me para ir ter com eles ao estúdio, sem qualquer garantia de que ia entrar no disco, mas acabou por resultar.

já está a gravar o próximo disco?

sim, mas ainda só gravei duas canções. em janeiro vou fazer o resto. oitenta por cento do trabalho está feito, mas há sempre 20% que só aparece no estúdio.

também está a ser feito numa cave?

não, deixei a cave depois de ter terminado tomboy. desta vez compus em casa e como vivi durante uns tempos do outro lado do rio, muito perto da praia, as novas canções têm mais luz e cores. mas ainda é cedo para premeditar seja o que for, a não ser que quero que o disco saia em 2014.

alexandra.ho@sol.pt