como tudo é diferente quando se entra num restaurante que está cheio e as pessoas aparentam um ar feliz. quando esses locais estão vazios, o que é uma constante nos últimos tempos, parece que não há razões para se festejar. o próprio restaurante assemelha-se a um lugar meio fúnebre onde falta vida. em dezembro nada disso acontece. como janto muitas vezes fora, prefiro locais mais recatados onde o barulho não se sobreponha à conversa. mas com a crise, a solidão dos espaços perdeu um pouco a magia. por isso tenho-me sentido confortável nos jantares a que já fui no corrente mês. há muito barulho, mas sabe bem sentir vida, ouvir as pessoas sorrirem, já que afastaram, mesmo que momentaneamente, a melancolia.
num desses jantares encontrei amigas e amigos que não estavam juntos há longos anos, desde os tempos de liceu. a primeira inquietação foi a de saber se nos íamos reconhecer tantos quilos depois. mas, por mais quilos e anos que se somem, a viagem ao passado rapidamente nos traz ao presente. parece que, afinal, não estivemos tantos anos afastados e que a cumplicidade de outrora não foi beliscada. pelo menos durante o jantar e os copos seguintes nos bares e discotecas que fomos.
mesmo as más notícias, como o desaparecimento de amigos comuns ou de familiares, depressa ficam para trás já que o mais importante é festejarmos o reencontro. é como se um jogo tivesse ficado a meio e fosse retomado muitos anos depois.
também as discotecas acolhem um público um pouco mais maduro, o que faz com que as crianças de 16 anos prefiram outras andanças. às tais festas de amigos juntam-se as de empresas e a misturada dá um resultado engraçado. mesmo quando olhamos para o lado e percebemos que há figuras que já não devem sair desde o último natal e que a próxima vez que o farão será em dezembro do próximo ano. afinal, o último mês do ano é quase sempre de esperança – que o próximo seja melhor. esperemos que sim.
vitor.rainho@sol.pt