vai tocar pela primeira vez em portugal. como não veio antes?
nunca me convidaram, se calhar acham que não tenho público aqui… por isso, este convite do maria matos apanhou-me completamente de surpresa. habitualmente faço concertos de natal em londres e arredores, mas nunca imaginei vir fazer um em lisboa. é algo completamente novo e estou muito entusiasmado.
tem muitas surpresas destas?
curiosamente, à medida que vou envelhecendo, estas surpresas acontecem-me cada vez mais. é sempre muito agradável, ainda por cima quando o convite é tão concreto como este. pediram especificamente um espectáculo de natal.
surpreende-se com o quê?
sinto que a minha carreira me tem levado para lugares muito diferentes nos últimos anos. tenho trabalhado em áreas musicais mais plásticas como a semi-ópera ten plagues que fiz há uns anos sobre a grande praga de londres, em 1666. foi uma peça especialmente escrita para mim, para uma representação a solo. adoro este tipo de desafios porque me aborreço com facilidade.
o que preparou agora para lisboa?
o espectáculo chama-se ‘alternative acoustic christmas’ e será à volta disso. vou tocar algumas das minhas canções de natal favoritas, tanto de rock e pop como outras mais tradicionais. quando era adolescente as minhas bandas preferidas faziam todas canções de natal e eu adorava. também vou tocar algumas canções minhas, algumas que se calhar conhecem.
passaram-se 30 anos, mas continua a ser mencionado como o vocalista dos soft cell. incomoda-o?
não me importo de que se lembrem de mim assim. há tantos músicos neste mundo e a grande parte não é lembrada por nada do que tenha feito, por isso acho que é bom ser recordado por algo.
ainda toca ‘tainted love’?
sim, incluo várias canções dos soft cell nos meus espectáculos. fazem parte da minha história musical e as pessoas pagam muito dinheiro para me ouvir cantar, por isso por que não haveria de o fazer? além de que cantar ‘tainted love’ é como estar de férias. divirto-me sempre muito a revisitar o meu catálogo e faz parte da herança musical que vou deixar.
recentemente tem lançado vários discos, mas gosta de destacar os que gravou em moscovo. porquê?
gravar, em moscovo, orpheus in exile (2009), um disco de versões de vadim kozin, um cantor cigano dos tempos soviéticos, foi uma das experiências mais extraordinárias da minha vida. em 1992 andei em digressão pela rússia e conheci um produtor que me desafiou a gravá-las. ouvi as canções e apaixonei-me por elas, percebi que há uma alma russa que as percorre. fui viver para moscovo, gravei com uma orquestra russa e foi uma aventura fantástica.
actualmente o que ouve?
não oiço muito música actual. hoje em dia é raro gostar de um álbum inteiro e não acho que haja alguma coisa verdadeiramente nova. se calhar já explorei muito ao longo destes anos todos. comecei a ouvir música aos seis anos, tenho um conhecimento vasto e quando oiço algo percebo logo de onde vem, quais as suas influências e raízes. não quer dizer que não goste, mas prefiro recuar no tempo e ouvir música retro, descobrir coisas genuinamente novas para mim. a música actual é como fast food, raramente me satisfaz por muito tempo. é quase como comer um hambúrguer, dá uma grande satisfação no momento, mas durante um período muito curto.
não há excepções?
claro que há. gosto muito do último disco do john grant e de antony and the johnsons. também gosto muito de folk americano e, no novo folk, gosto bastante de fleet foxes.
o teatro maria matos recebe hoje o músico britânico, naquela que será a sua estreia em portugal. o vocalista dos extintos soft cell vem a lisboa cantar temas de natal.
alexandra.ho@sol.pt