Mário Soares e os estrangeiros

Nesta altura do ano é inevitável. As redacções dos jornais decidem fazer as suas escolhas no que diz respeito às figuras e acontecimentos do ano, e, por norma, há sempre quem queira antecipar-se aos outros. Não raras vezes, as votações acabam por ficar desajustadas da realidade já que há tragédias que acontecem depois de as…

nas eleições em que participei formaram-se quase sempre dois grupos distintos: de um lado, aqueles que queriam enaltecer o que de bom tinha sido feito; do outro, os que preferiam eleger quem se tivesse distinguido na luta contra o poder instalado. no fundo, uma certa ‘guerra’ ideológica. no meio da confusão, havia sempre alguém que queria votar em factos e pessoas fora do baralho, o que levava a que algumas das propostas só fizessem sentido no bairro onde tinham acontecido as coisas ou onde tinha nascido a figura em questão.

acho um exercício engraçado e revela muito do estado de espírito dos votantes. os mais novos gostam de mostrar a sua rebeldia e são capazes de lutar pelas suas escolhas como se estivessem a defender o último fôlego. na verdade, poucos são os leitores que se lembram nas semanas seguintes de quais foram as escolhas deste ou daquele jornal, à semelhança das notícias. vivemos num mundo de pastilha elástica e a validade das notícias é muito curta. são importantes, é certo, mas o mundo não fica suspenso pelas escolhas dos jornalistas.

este ano, a figura internacional não andará muito longe do papa francisco e do ex-espião snowden. quanto às nacionais, a história é bem distinta. haverá dois lados da barricada e cada um lutará pela sua ‘dama’.

de todas as eleições conhecidas – o sol divulgará as suas escolhas para a semana – a que mais me surpreendeu foi a da associação da imprensa estrangeira em portugal. os jornalistas que fazem parte dessa associação decidiram eleger mário soares como figura do ano. e porquê? “pela longa e intensa trajectória política” e “pela enérgica actividade” dos últimos meses. sem querer questionar tais argumentos, apesar de estarmos perante ‘o prémio’ do ano e não de carreira, não deixa de ser curioso outra das justificações: “é a personalidade portuguesa que mais mostras tem dado de reconhecimento do trabalho realizado pelos correspondentes”. é caso para dizer que há palavras que valem mais do que mil imagens…

vitor.rainho@sol.pt