A Cultura em 2013

Gisela João: Há muito, muito tempo que um disco de estreia não era tão aplaudido como o homónimo de Gisela João. O álbum chegou em Julho, mas no início de 2013 já se falava da fadista como a grande revelação do ano.

os que lhe conheciam a voz, como helder moutinho, garantiam que ia surpreender porque está impregnada de fado. um fado tradicional, simples e emotivo, sem recursos a truques contemporâneos. quando o disco foi lançado confirmaram-se as previsões e desde então a cantora tem somado pontos. conquistou o troféu revelação nos prémios amália e os elogios chegam de todos os lados, tanto da crítica especializada, como de nomes influentes como o de miguel esteves cardoso.

alexandra.ho@sol.pt

exposição na ajuda de joana vasconcelos

foram milhares os que, todos os dias, durante quatro meses e meio, fizeram fila junto ao palácio nacional da ajuda para ver a mostra da artista plástica joana vasconcelos. com um pouco mais de 235 mil espectadores, joana vasconcelos no palácio nacional da ajuda bateu recordes. foi a exposição individual mais vista de sempre em portugal, destronando as de frida kahlo ou amadeo de souza-cardoso.

número altos mas pouca coisa para a artista, cuja exposição em versalhes no ano passada foi vista por mais de um milhão e meio de pessoas – mesmo com toda a polémica gerada à volta de algumas das suas obras: a noiva, por exemplo, foi recusada.

por cá, não houve qualquer oposição a que o lustre feito de tampões estivesse exibido numa das salas palacianas. a mostra, comissariada por miguel amado, e produzida pela everything is new, contou com quase 40 peças, que durante aqueles meses fizeram parte do décor do palácio, entre as quais o lilicoptère, um helicóptero feito de penas instalado em plena sala dos embaixadores, uma gigante vespa azul no quarto de d. maria pia e war games, um carro com espingardas de plástico viradas para os interiores cobertos de peluche, colocado ao lado de um coche, no vestíbulo.

a artista está, de resto, a viver os seus anos dourados. foi também a representante de portugal na 55.ª bienal de veneza, com o trafaria praia, cacilheiro que ficou na cidade italiana entre junho e novembro, a fazer as vezes de pavilhão de portugal, revestido a azulejos e com interiores forrados de cortiça e que, visitado por mais de 60 mil pessoas, ainda levou cerca de dez mil a passear.

rita.silva.freire@sol.pt

o êxito da gaiola dourada

nunca um cliché fez tanto sucesso. a gaiola dourada, o filme de estreia de ruben alves, que versa sobre uma família portuguesa emigrante em frança com todos os seus lugares comuns, da mãe porteira ao pai pedreiro, das tias barulhentas ao tio macho latino chico-esperto e à música pimba nos momentos especiais, foi o mais visto do ano em portugal, com mais de 750 mil espectadores.

protagonizada por rita blanco e joaquim de almeida, esta comédia com um travo agridoce (mostra uma comunidade emigrante divertida mas pouco educada, com maus empregos e, acima de tudo, com baixa auto-estima e muita subserviência) não terá um grande rasgo artístico, mas mostrou que o cinema português pode, afinal, levar muita gente às salas, destronando, por larga margem, os blockbusters americanos.

com um argumento simples sem ser simplório, a gaiola dourada é um filme bem feito, capaz de nos fazer rir de nós próprios.

filho, também ele, de emigrantes portugueses radicados em frança, ruben alves conhece bem o que se propôs retratar e talvez seja esse o segredo do êxito (também em frança o filme foi um dos mais vistos do ano). e mesmo que não conquiste a crítica, o realizador conseguiu, definitivamente, conquistar o público tendo aliás, sido distinguido com o prémio do público dos prémios do cinema europeu.

rita.silva.freire@sol.pt