arrumados pela ordem alfabética dos títulos, grande parte dos textos trata da escrita e da literatura. segura do seu talento, agustina considera-se uma grande escritora desde os doze anos. nunca pôde resistir a um papel em branco: “eu nasci ortográfica como outros nascem diabéticos. […] que belo é escrever por linhas direitas coisas tortas e fisgadas!”.
na intimidade das suas anotações, revela-nos que as suas ficções, sobre o tema da família “como suporte de solidão”, portuguesas até à medula, convencionais porque pertença de “um tempo em que a memória pesa sobre o futuro”, estão afinal cheias de personagens que pensam e, assim, determinam os factos. também ela o faz.
sempre aguda, clarividente e controversa. une pensamento e libido na raiz da escola de sagres e defende as descobertas como “combinação entre a política económica e a sensibilidade para criar áreas de desgaste erótico”. assegura: os lusíadas foram mera encomenda, sem qualquer inspiração. pede ao aiatola khomeini uma audiência para interceder por salman rushdie. para ela, a democracia é “regime policial mais ou menos sofisticado” e “acaba em fachada sonsa de uma pequena festa oligárquica”; mas, garante, tendo sido “sempre uma festa de elites”, o são joão “vem perdendo sentido”. homenageia figuras da cultura, a “paixão da origem” ou o casamento como “consciência de eternidade”. é agustina, pois claro, e vale a pena ler os seus conselhos para o novo ano: tão válidos para 1980 como para 2014.