Portas pede absolvição

Os congressos partidários são muitas vezes meros actos litúrgicos que se resumem a isso mesmo. O do CDS, que se reúne este fim-de-semana em Oliveira do Bairro, vai ser muito mais: Paulo Portas vai explicar aos congressistas o seu pedido de demissão do Governo em Julho que abriu uma séria crise política e as opções…

o líder centrista nunca explicou os motivos que estiveram por trás da sua demissão dia 1 de julho. chegou a prometer fazê-lo numa reunião do conselho nacional, mas mudou entretanto de ideias. esta semana, em entrevista à rádio renascença garantiu que dirá “alguma coisa sobre essa matéria”. fonte próxima do líder afirmou ao sol que tratará do assunto em dois planos: a decisão emocional e as razões objectivas de queixa relativas ao então funcionamento interno do governo.

por outro lado, tenciona explicar também a necessidade da reforma das pensões, em nome do “princípio da confiança aplicado aos trabalhadores jovens”. portas está sob fogo depois de ter recusado a “linha vermelha” da tsu dos pensionistas na última primavera e agora ter aceite o alargamento da contribuição extraordinária de solidariedade.

anunciado novo porta-voz

depois do susto que os centristas apanharam em julho com o pedido de demissão intempestivo de portas, os dirigentes do partido reforçaram o elogio ao líder na esperança de que algo parecido não volte a acontecer tão cedo. antes da crise, portas chegou a admitir que a sua próxima candidatura ao cds fosse a última. agora, ninguém quer ouvir falar disso.

“o meu desejo é que se mantenha muitos e bons anos à frente do cds e não vejo razão para que assim não seja, ou seja, que fique para além do ciclo deste congresso”, afirma ao sol o eurodeputado nuno melo, apontado como seu sucessor. “não tenho a certeza que este seja o último mandato. enquanto essa for a vontade dele e dos militantes… a direita gosta de líderes duradouros”, diz antónio pires de lima. “o que interessa é que se candidata agora. depois, teremos dois anos para o convencer a voltar a candidatar-se”, explica outro dirigente.

no congresso, os órgãos de direcção política do cds serão alargados para o ‘portismo’ aumentar e será anunciado o próximo porta-voz depois de joão almeida ter ido para o governo: a escolha será entre lobo d’ ávila (mais provável) e cecília meireles.

portas, que diz candidatar-se a “uma liderança inclusiva e aberta” enfrenta no congresso a oposição do movimento alternativa e responsabilidade, de filipe anacoreta correia. este apresenta uma moção global alternativa que vai a votos amanhã à noite, uma lista ao conselho nacional e um aliado de peso: luís nobre guedes, que encabeça a lista à mesa do congresso. ao sol, este afirma que tem a sua intervenção preparada há duas semanas e que vai falar sobre o “futuro” e o que “ainda deve ser feito”.

anacoreta correia tem pouca esperança que portas aceite algumas das sugestões do seu ‘caderno de encargos’, nomeadamente, uma profunda reforma do estado, uma agenda para a demografia, reforma do sistema político. segundo anacoreta, “estamos a terminar o ciclo governativo e ainda não se fizeram as verdadeiras reformas” porque portas dá mais importância à “percepção das pessoas” do que à substância.

sobre alianças, é certo que psd e cds concorrerão juntos na europeias (apesar da oposição da alternativa e responsabilidade). a decisão sobre uma aliança nas legislativas pode ficar dependente de um referendo interno, como aconteceu em 1998. mas portas já avisou que o sentimento generalizado dos militantes é que “cada um vá com a usa camisola”.

helena.pereira@sol.pt