Sócrates critica troika por não ter chamado PS

A troika devia ter envolvido o PS nas sucessivas renegociações do memorando de assistência financeira. Quem o disse foi o ex-primeiro-ministro José Sócrates, que assinou o programa em Maio de 2011.

o ex-governante socialista esteve reunido esta segunda-feira em lisboa com os eurodeputados da comissão de assuntos económicos, encarregados de fazer um relatório sobre os programas da troika em portugal, irlanda e grécia.

na reunião, sócrates insistiu que o memorando por si assinado foi “rasgado” e substituído por outro com doses de austeridade que nada tinham a ver com o inicial e sublinhou que o resgate seguia a linha do pec4, que foi chumbado pela oposição. mais: garantiu que nenhuma medida chumbada pelo tribunal constitucional estava no memorando original.

conversa de três horas

à saída, os eurodeputados portugueses comentariam que o ex-primeiro-ministro não mudou nada. “usando as suas palavras, a narrativa continua a mesma”, afirmou ao sol um dos participantes na reunião. “insistiu que a dose de austeridade não foi contratualizada por ele”, explicou outro.

a conversa, que decorreu em inglês por opção de sócrates, durou quase três horas e este fez-se acompanhar dos seus ex-ministros pedro silva pereira e vieira da silva. o ex-ministro das finanças, teixeira dos santos, que terminou o mandato em rota de colisão com o seu então primeiro-ministro, não esteve presente. e, curiosamente, segundo relatos feitos ao sol, o seu nome nunca foi referido por sócrates. nem mesmo quando se discutiu o modo como foi negociado entre a troika e portugal o programa de ajustamento. o ex-chefe de governo admitiu que nesse período só se reuniu com a troika duas vezes, uma no início e outra no fim.

segundo sócrates, a dívida soberana nunca tinha sido problema para ninguém, além disso duvidava que angela merkel soubesse sequer o rating da divida alemã até se falar da crise. e voltou a culpar o eurostat por ter alterado o défice de 2010 para nele incluir o buraco do bpn, que, segundo sócrates, fez com que os cálculos do governo não batessem certo.

na reunião, sócrates insistiu várias vezes nestes dois pontos: queria cingir-se aos factos e lamentava que o memorando por si assinado não tivesse sido implementado. a reunião prolongou-se mais tempo do que o necessário porque as perguntas estiveram a cargo dos relatores do parlamento europeu. os eurodeputados portugueses, mais conhecedores da realidade do país, estavam ali apenas como observadores e não podiam intervir.

helena.pereira@sol.pt